CONCURSOS DE AU

Vencedores do concurso do Museu Marítimo falam sobre as inspirações do projeto

 

A equipe formada pela parceria entre os escritórios messina | rivas arquitetura e Ben-Avid Studio, sob responsabilidade técnica do arquiteto e urbanista Rodrigo Quintella Messina, de São Paulo (SP), conquistou o primeiro lugar no Concurso de Arquitetura para o Museu Marítimo do Brasil. Participaram também os arquitetos Francisco Rivas e Martin Benavidez, com um grupo de colaboradores formado por Stefanía Casarin, Alen Gomez, Emanuel Fara, Franco Fara e Facundo Rasch.

 

 

Em entrevista, Rodrigo Messina e Francisco Rivas comentam as inspirações por trás do projeto intitulado “Convocar o comum das águas”, as preocupações ao pensar em um equipamento cultural que integra uma área simbólica do Rio de Janeiro, e a satisfação com os debates promovidos pelo concurso público. Confira:

 

 

Como vocês ficaram sabendo sobre o concurso e o que motivou a participação?
RM: Nós ficamos sabendo pelas redes, na internet e por amigos. Participar de um concurso é sempre uma decisão a ser feita em conjunto, porque toma o tempo de produção de um escritório. Por isso, foi importante termos a parceria de uma equipe multidisciplinar, com profissionais trabalhando em várias frentes, para dar conta de um programa que atendesse às exigências de um museu. É um trabalho que demanda uma complexidade programática, levando em conta não só a estrutura arquitetônica, mas o acervo de um museu.

 

FR: A decisão de participar passou por um lado de amizade, da arquitetura como meio de nos relacionarmos e compartilharmos ideias. Mas o interesse veio também para aproveitar a oportunidade de participar de um concurso público, que é algo extremamente importante, ainda mais neste momento em que não estamos tendo muitos concursos no Brasil.

 

 

Vocês já haviam trabalhado com um projeto como o de um museu antes? Como esse objeto de estudo chamou a atenção de vocês?
RM: Nós gostamos de pensar que não devemos subestimar nenhum tipo de proposta. O concurso é um desafio para respondermos através da arquitetura. Estamos trabalhando agora para construir um instituto, por exemplo, que é como se fosse uma grande galeria. A gente já vem carregado de uma experiência não propriamente para um museu, mas para encarar o programa que nos aparece. Acho que essa é uma das grandes qualidades da arquitetura. Não chegar a ser especialista em uma coisa só, mas conseguir trabalhar multidisciplinarmente para responder às demandas dos mais variados programas.

 

FR: A gente nunca subestima o programa, sendo pequeno ou grande. O desafio é fazer esse trabalho com responsabilidade e dedicação. Inclusive, o Martin Benavidez, do BenAvid Studio, nosso parceiro na proposta, vem carregado de experiências com projetos para galerias de artes e pavilhões expositivos, como o do Brasil na Expo de Dubai 2020, do qual ele é coautor.

 

 

Quais foram os principais desafios na hora de pensar o projeto?
FR: Primeiro, eu acho que foi o tamanho, a metragem quadrada da área, e como a gente fazia para encaixar isso. Desde o começo, foi a ideia de liberar o píer por baixo, dando sentido a essa lâmina flutuando sobre o píer. Decidimos levar os programas como o auditório, o restaurante e a cafeteria para o lado mais da cidade, para o lado da terra. E conectar os dois ambientes pela ponte. Queríamos recuperar o horizonte.

 

RM: Uma das coisas que sempre tivemos em conta foi o cuidado com as várias instâncias que contemplam um projeto naquela área – cuidado com o entorno, o patrimônio arquitetônico, a paisagem e o uso público daquele lugar por visitantes e moradores da região. Uma das decisões foi, como o Francisco disse, concentrar na parte da orla os programas de uso público. Criamos o auditório, por exemplo, para ser um espaço fechado e, ao mesmo tempo, ter o palco aberto para a praça, permitindo eventos públicos e gerando a proximidade de quem está passando pelo local com as águas. Pensamos em uma estrutura que revela o píer, esse patrimônio de muitos anos que estava sofrendo com uma sobreposição de camadas.

 

 

De que forma o projeto dialoga com a proposta conceitual do Museu Marítimo do Brasil de enfatizar a relação histórica do povo brasileiro com o mar?

RM: As navegações não só geram desenvolvimento para as cidades, mas também podem incitar imaginações marítimas. Por isso, achamos oportuno tomar partido do universo marítimo para orientar certas decisões de projeto. Imaginamos uma passarela para incitar o atravessamento do mar, como se os visitantes entrassem numa embarcação. Há a proposta de fazer o controle de insolação no edifício principal por meio de telas de veleiros. E, claro, há a inevitável proximidade com a água, esse espaço comum que aproxima e afasta pessoas, continentes e animais, um espaço de conflitos e de encontros. Foram algumas estratégias que usamos no processo de pensar o museu, pensar a relação entre as pessoas e as histórias das navegações. Com isso, não estamos insinuando que se deve fazer um projeto como uma metáfora do imaginário marítimo, mas são licenças poéticas, que podem gerar diferentes interpretações.

 

FR: O projeto também coloca as pessoas como navegantes dentro do próprio museu. A passarela surge da necessidade de conectar a torre com a lâmina, o que pode ser visto como o link entre o píer e uma embarcação.

 

 

A localização do museu, no Centro do Rio, é muito simbólica. Trata-se de uma área que integra marcos arquitetônicos de séculos com propostas da arquitetura contemporânea, em um corredor cultural de extrema relevância. Para vocês, o que representa terem um projeto inserido nesse local?

FR: Nós buscamos entender um projeto a partir das existências, ou seja, compreender tudo o que existe ali para justificar nossas escolhas. É um entendimento da função que a arquitetura tem numa cidade. Por isso, por exemplo, quisemos soltar um pouco o projeto do chão, a partir da preocupação de como ele vai ser visto da terra.

 

RM: Há um entendimento de que agir na área portuária traz muitos ganhos, mas também gera controvérsias. As pessoas que moram lá reivindicam os debates do que está sendo feito, de forma correta. A gente tem essa prerrogativa. Então, quais são os possíveis ganhos públicos, qual o impacto na paisagem, como a gente pode conversar com os projetos que já estão sendo desenvolvidos no local? Sempre haverão efeitos bons, ruins, contraditórios. É bom entender que o projeto enfatiza as controvérsias de uma revitalização. Mas existe, em cada detalhe, o cuidado com o impacto público.

 

 

E um concurso público abre espaço para todas essas controvérsias, correto?

FR: O caminho do concurso público tem que ser o caminho das diferenças, da possibilidade de não concordar. A arquitetura tem que ser vista como ferramenta de conversa e de troca.

 

RM: Exato, a arquitetura é ferramenta de reflexão urbana e humana. O concurso é essencial para esse debate, uma oportunidade para reconhecer a produção recente e, ao mesmo tempo, colocá-la em análise a partir do que já existe.

 

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