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58ª Plenária: Luiz Augusto Contier fala sobre aplicações da tecnologia BIM

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O BIM (Building Information Modeling ou Modelagem da Informação da Construção) é um método de trabalho baseado em ferramentas digitais que permitem organizar todas as informações que dizem respeito à construção de um edifício. Cada vez mais, contratantes de todo o mundo vêm exigindo o uso do BIM no desenvolvimento e acompanhamento de projetos arquitetônicos, por causa da facilidade que o sistema traz aos processos de trabalho e à compatibilização de projetos. Para esclarecer melhor o tema, o CAU/BR convidou o arquiteto e urbanista Luiz Augusto Contier, conselheiro federal suplente por São Paulo, para uma discussão aberta sobre o assunto.

 

Contier trabalha com o BIM desde 2002. É empresário, professor e associado à AsBEA há 24 anos. “BIM não é software, BIM é um processo de trabalho, vários softwares atendem essa plataforma”, explicou. “No AutoCAD, eu desenho virtualmente, as ferramentas são praticamente as mesmas. No BIM, não. Em vez de desenhar, eu construo virtualmente”. Nos programas que trabalham com o BIM, cada objeto tem uma série de propriedades. Uma porta, por exemplo, não é apenas a representação de um retângulo, o programa diz se essa porta é de madeira, se tem ferragens, dobradura, maçaneta. Esse conjunto de informações não-geométricas são o “I“ do BIM. “Os programas têm meia dúzia de comandos de objetos, o resto é Arquitetura: definir critério, parâmetros, propriedades. Eu contrato no meu escritório gente que não sabe BIM, porque isso ensino rapidinho, mas Arquitetura tem que saber antes”, disse. “Inclusive o BIM aumentou a idade média dos arquitetos que tenho no escritório. Agora preciso menos das pessoas que conhecem os programas e mais das pessoas que possuem experiência em Arquitetura”.

 

Para exemplificar como funciona o BIM, Contier fez um remissão ao século XVIII, quando não havia um código formal de representação de projetos. Mostrou o método de trabalho de Christopher Wren, arquiteto que fez a maioria das igrejas de Londres. Além de ilustrações detalhadas, Wren usava maquetes esculpidas em carvalho, não para apresentar a proposta ao cliente, mas para que ele pudesse tomar decisões de projeto. “Ele estava estudando a cúpula a partir de várias maquetes da cúpula. Mandava o artesão fazer segundo o desenho dele, aí ele examinava, fazia outro desenho, outra maquete, ele examinava e assim ia”, disse Contier.

 

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Modelo de carvalho usado pelo arquiteto Christopher Wren no século XVIII

 

Outro exemplo do uso de modelos na Arquitetura é a Igreja da Sagrada Família, em em Barcelona. Uma de suas maquetes foi construída de ponta-cabeça, suspensa por fios pendurados no teto. Pendurados à maquete, estão saquinhos de areia que funcionam como pesos, onde Antoni Gaudí estudou como distribuir a forma através do peso. “É uma maquete analítica, dá pra ver perfeitamente as torres e como isso se distribui até as fundações”. Para Contier, esse método de trabalho é o que o BIM proporciona, com muito mais facilidade.

 

Modelo usado na construção da Igreja da Sagrada Família, em Barcelona
Modelo usado na construção da Igreja da Sagrada Família, em Barcelona

 

PLANEJAMENTO E DESPERDÍCIO
Luiz Augusto Contier apresentou números impressionantes de uma grande construtora com que trabalhou: 88% dos documentos de um projeto sofrem alteração, sendo que 45% do total de documentos sofrem revisão após o projeto executivo. O desperdício com instalações chega a 25%, sendo que 10% decorre da falta de integração entre orçamento, compras e suprimentos. “Isso é prejuízo que o cliente paga, o número final é vultoso. Reclamam de pagar 2% para projeto, mas pagam até 5% do custo da obra em desperdício”, disse Contier. “para eles faz parte, é assim mesmo. Mas é má engenharia, má construção e mau projeto”. O estudo foi feito para analisar a necessidade de se implantar o BIM na construtora. “Os benefícios para quem constroi são evidentes”.

 

Projeto feito com tecnologia BIM
Projeto feito com tecnologia BIM

 

Com a integração entre os diversos projetos, o BIM economiza muitas horas de retrabalho dos projetistas. “No modo antigo, um faz a planta e outro faz o corte, são documento soltos, muito mais suscetíveis ao erro. Com o BIM não, aumenta a assertividade, reduz o retrabalho e permite entregar mais coisas, melhorando a performance do escritórios”. Contier contou que fez recentemente uma reunião com todos os projetistas de uma obra, comparando os projetos projetados com a construção. “Dá pra furar a viga? Dá para mudar o cano de posição? Então põe na ata que vamos mudar o cano na quarta-feira, na sexta todos os escritórios fazem o upload das mudanças e na segunda de manhã todos os escritórios fazem o download de todos os modelos para trabalhar até a próxima reunião. É uma reunião sistemática contínua”.Uma dessas vantagens é que, com o BIM, o arquiteto possui muito mais segurança para realizar orçamentos de obras, precificando cada produto usado no projeto.

 

Com um modelo de informação, o arquiteto pode visualizar automaticamente qualquer planta que ele desejar, a partir da posição de perspectiva que ele adotar no software. “Uma câmera olhando pra baixo vai ver uma planta, eu posso aproximar e ver um detalhe daquela porta e suas propriedades ou um corte do edifício e me aparece uma tabela com informações das mais diversas”, explicou.

 

“Se eu retiro uma privada de um determinado pavimento, ela some da planta, do corte e do quantitativo automaticamente. Eu coloco um objeto, ele automaticamente povoa todas a listas que eu criei. Se eu quiser posso esconder meu trabalho de arquiteto e revelar o que tem por trás da Arquitetura: cada sprinkler, cada caixa de hidrante, está construído aí, não apenas desenhado”.

 

Visualizações possíveis a partir do BIM
Visualizações possíveis a partir do BIM

 

QUEM USA O BIM
Contier apresentou alguns projetos feitos em BIM, como a sede da Petrobras em Santos. Foi a primeira licitação pública que exigiu BIM nos projetos, em 2011. A Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), do Estado de São Paulo, já avisou que vai adotar a obrigatoriedade do BIM em todas as suas contratações. O governo de Santa Catarina se comprometeu a só contratar projetos públicos em BIM a partir de 2018. Banco do Brasil está coordenando os projetos de 270 aeroportos, cuja exigência era BIM. O Tribunal de Contas da União (TCU), está começando a usar o BIM pra auditoria de obras de projetos públicos e obras públicas. Em 2015, só 7% da obras fiscalizadas não tiveram ressalvas. Contier disse que a Secretaria de Patrimônio da União e o Exército Brasileiro estão preparando um processo em BIM para catalogar todos os patrimônio da União, não só onde estão, mas o gerenciamento deles, se estão ocupados ou não, qual o custo de manutenção…

 

No Reino Unido, determinou-se em 2011 que o BIM seria obrigatório para projetos de obras públicas com investimento a partir de 5 milhões de libras. O prazo para que as empresas se preparassem era 2016. “Dinheiro público tem que ser dentro desse esquema, eles querem isso para dar transparência. No Brasil, seria o fim dos aditivos”, afirma Contier. “Na nossa realidade, se contrata projeto baratinho e resulta em obras caras. A melhor forma de contratar barato é contratar um bom projeto. Afinal de contas o projeto é um porcentagem pequena do valor da obra”.

 

Publicado em 28/09/2016

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Uma resposta

  1. Rio de Janeiro, 1dez2018.
    Prezado Arq. Contier.
    Parabéns pelo seu pioneirismo na arquitetura e no uso das tecnologias CAD e BIM.
    Já estou fora da profissão de arquiteto há 28 anos.
    Para permitir a atualização (recapacitação) dos profissionais que fizeram downgrade como eu,(corretor imobiliário) precisamos diminuir brutalmente a carga tributária atual (94 tributos) e desregulamentar radicalmente o ambiente regulador hoje (conspurcado por 5.400.000 legislações -códigos de obras no meio) impostas para empurrar deliberadamente os trabalhadores privados e empresas para a ilegalidade e a corrupção, com o custo da legalidade e das transações tornando inviável a produção brasileira e a importação de pc’s rápidos. Códigos de obras em todo o Brasil tem que ser bem simplificados (já que a vida e exigências tornaram-se mais complexas) para que a criatividade dos arquitetos e demais profissionais possa fluir, tanto na construção quanto na manutenção das construções) em beneficio dos contratantes, moradores e usuários dos espaços privados e públicos, acabando de vez com a precariedade e a informalidade que campeiam pelo país inteiro. Muito obrigado. Atenciosamente.

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