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“A cidade não pode parar”, artigo de Luiz Fernando Janot em “O Globo”

Desde que o Rio foi eleito cidade-sede das Olimpíadas de 2016, a população não teve mais sossego. A partir dessa ocasião, as obras tomaram conta de praticamente toda a cidade, e o cotidiano do carioca se tornou um verdadeiro inferno. Ainda bem que só falta um ano para acabar esse suplicio e, enfim, podermos usufruir das benfeitorias realizadas na cidade.

 

Luiz Fernando Janot é conselheiro federal do CAU/BR pelo Rio de Janeiro.

 

Deixando de lado a Barra da Tijuca, para onde convergiram os principais investimentos em infraestrutura, devemos, agora, voltar a nossa atenção para as outras áreas da cidade beneficiadas com a implantação do BRT. Certamente, esses bairros estarão sujeitos à ação predatória da especulação imobiliária, inclusive a informal. Para conter a ganância do especulador e assegurar um desenvolvimento urbano sustentável, é indispensável providenciar, o mais breve possível, um conjunto de normas para disciplinar a ocupação do solo.

 

Nesse percurso não se pode perder de vista a oportunidade de elevar a qualidade de vida da população que reside nesses bairros. Além de implantar um tratamento urbanístico adequado nas áreas remanescentes das desapropriações ao longo das linhas do BRT, deve-se melhorar a qualidade da pavimentação das ruas e calçadas, dotando-as de uma arborização coerente com as condições ambientais existentes nessas localidades.

 

No tocante às obras de requalificação urbana da área central da cidade, espera-se que elas recuperem a importância desse núcleo histórico. Todavia, de nada adiantarão as benfeitorias prometidas se o Centro continuar sendo palco para assaltos recorrentes a qualquer hora do dia ou da noite. Por que será que no Brasil não vingam alguns bem-sucedidos exemplos de segurança pública praticados em outras cidades do mundo? É preciso refletir com absoluta isenção sobre essa questão e investigar as causas e consequências decorrentes dessa deplorável situação.

 

Passada a ressaca das Olimpíadas, certamente um novo cenário irá despontar no Rio. De fato, muita coisa foi feita, mas outras tantas ficaram por fazer. Infelizmente, a situação econômica brasileira não é nada promissora para novos investimentos. As linhas de crédito já não possuem a flexibilidade praticada até bem pouco tempo. Os orçamentos governamentais foram contingenciados para enfrentar o atual desequilíbrio financeiro e tudo indica que iremos conviver com um quadro recessivo durante um bom período de tempo. Não obstante, manter ativa a economia e sustentar o nível de emprego desejado exigirá muito esforço, dedicação e criatividade.

 

O Rio não pode parar. Para tanto, um novo Planejamento Estratégico começou a ser elaborado e deverá ser apresentado até o fim do primeiro trimestre do próximo ano. O seu objetivo será redefinir perspectivas futuras e estabelecer novas metas para o desenvolvimento econômico da cidade. De nada valerá todo esse esforço se o plano, na sua concepção, não levar em conta a abrangência metropolitana do Rio e o seu protagonismo político junto aos demais municípios que gravitam no seu entorno.

 

Mas não basta apresentar ideias atraentes e bem ilustradas se elas se destinarem exclusivamente a propósitos publicitários ou eleitoreiros. Há que haver conteúdo e coerência no que estiver sendo proposto. De que adianta uma bela estratégia se a cidade continuar apresentando essa absurda e constrangedora desigualdade social? Que futuro se espera da cidade se a sua população continuar vivendo trancafiada em guetos de luxo ou de miséria e refém da violência urbana disseminada pelos seus mais diversificados espaços?

 

As respostas para essas questões não devem ser de competência exclusiva dos poderes municipal e estadual. Os programas federais de longo prazo destinados a estabelecer uma política de segurança pública abrangente e eficaz, lamentavelmente, continuam engavetados nos gabinetes oficiais. Enquanto isso, as cidades brasileiras vão se expandindo sem a menor perspectiva de incorporarem políticas públicas para torná-las mais justas e menos desiguais.

 

 

Publicado em 01/09/2015 com a autorização do autor.

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