CIDADES

Arquiteta e urbanista discute com comunidades o enfrentamento da pandemia

“Não temos isolamento porque não temos espaço”. Esta é a constatação do músico e agente social do Consultório da Rua, Dalmo Santos, que mora na Orla Lagunar em Maceió, Alagoas. Ele foi um dos líderes comunitários convidados para participar da live Ouvindo as Comunidades em Tempo de Pandemia: ocupações, grotas e bairros populares de Maceió, promovida pelo Grupo NEST (Núcleo de Estudos do Estatuto da Cidade) com o apoio da ONU-Habitat e do Instituto IDEAL, dia 8.

 

 

Mediada pela arquiteta e urbanista e professora Débora Cavalcanti que integra o NEST, a live, um canal do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas, também teve o objetivo de abordar questões que se relacionam com o campo da Arquitetura e do Urbanismo do ponto de vista das comunidades sobre o momento que vivemos, como explicou Débora.

 

 

“A superposição de desastres (pandemia e inundações) não traz um somatório, mas sim uma multiplicação de impactos, especialmente para as populações mais vulneráveis porque são as mais expostas”, avalia a arquiteta e urbanista.

 

 

E esses impactos foram visíveis na relação desses moradores com a casa e o trabalho. Segundo Eliane Silva, coordenadora nacional do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST), que reside nas Grotas, a situação é muito precária. “As pessoas vivem embaixo do metro quadrado da lona preta, por não terem condições de pagar aluguel. Nesses locais não tem água, saneamento básico, eletricidade e tudo piorou porque não há emprego e elas estão passando fome”, revelou. O MTST criou um fundo que arrecada recursos para levar alimentos e material de higiene para os moradores. “Essas famílias são invisíveis para o Estado”, avalia Eliane.

 

 

Na região em que Dalmo reside, a Orla Lagunar, a situação não é muito diferente para as famílias que vivem em barracos de lonas e de madeiras à beira da Lagoa Mundaú, onde a fonte de renda provém da cata do molusco sururu. “Juntou a chuva com a pandemia e a dificuldade é tremenda em barracos pequenos e com o esgoto a céu aberto”, lamentou. O bairro registra alto índice de contaminação do coronavírus e a comunidade não possui meios nem infraestrutura para a higiene pessoal, muito menos para o isolamento. “Não estamos preparados; muitas pessoas nem acreditam que podem se contaminar”, afirmou Dalmo.

 

 

As dificuldades também são inúmeras no Complexo Santa Helena onde reside outro convidado da live, o presidente da Associação dos Moradores da Grotas Santa Helena, Murilo Lourenço da Silva. Embora a contaminação pelo coronavírus seja baixa na região, a comunidade vive em condições subumanas, enfrentado as mesmas mazelas: esgoto à céu aberto; transporte coletivo precário e ambiente insalubre, segundo Murilo. Para agravar a situação, a pandemia afetou drasticamente a economia local e muitos estão desempregados.

 

 

A prevenção nessas áreas é uma utopia. “Não tem como se prevenir. Vivemos num Brasil que não tem estrutura decente para todos; que explora trabalhador e não lhes dar condições de vida. É tentar a sorte, é ver as pessoas morrendo sem poder fazer nada”, afirmou Eliane Silva, apoiada pelos demais.

 

 

“A prevenção para nós é usar máscaras que recebemos de doações. Não temos mais nada fora isso, pois do governo só o auxílio que nem todos conseguiram, porque não sabem usar computador e não têm dinheiro para usar a lan house”, revelou Murilo.

 

 

Mesmo na adversidade eles persistem. Dalmo Santos promove a conscientização dos morados sobre a gravidade do coronavírus espalhando cartazes nas ruas, recorrendo a sua arte para levar outras informações sobre saúde para os moradores e resgatar crianças e jovens da criminalidade.

 

 

O trabalho desses líderes conta com o apoio de organizações não-governamentais; religiosos e de todo tipo de voluntariado. Infelizmente eles vislumbram o aumento dos casos de contágio em decorrência da falta de condições mínimas dos territórios que ocupam.

 

 

“A pandemia desnudou uma situação que existe há anos: não temos habitação digna; educação; saneamento; água; acesso à internet e nada se resolve porque a concentração continua nas mães de alguns. Hoje tais questões aparecem muito fortes. Se as pessoas estão nesses territórios é porque não tem onde viver e o problema de tudo isso é a falta de vontade política. Por isso a reforma urbana é fundamental, pois tais problemas são enfrentados por grande parte da nossa população”, defende Débora Cavalcanti.

 

Acesse outras resenhas de webinars e debates sobre CIDADE E HABITAÇÃO PÓS-PANDEMIA em: https://caubr.gov.br/lives-e-webinars-especial-o-futuro-das-cidades-e-habitacoes-pos-pandemia/

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