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Arquitetos e urbanistas defendem cidades inclusivas

O tema cidade, neste momento, adquire grande relevância. Na avaliação do arquiteto e urbanista e professor Sérgio Magalhães a crise atual, somada a fatores históricos, nos apresenta o limiar de uma escolha, principalmente no Brasil, de termos cidades que sejam válidas e instrumentos do desenvolvimento e da redução das desigualdades ou de persistirmos no modelo atrasado e excludente trilhado nos últimos 40 anos.

 

“A pandemia chegou num momento em que todas as estruturas que pareciam absolutamente consolidadas no mundo pediram socorro. Agora há uma brecha para que a cidade entre na pauta social, econômica e política e seja um instrumento para valorizar as questões que são necessárias para a valorização da própria humanidade e para que o meio ambiente e a desigualdade social possam ser considerados e sejam, também, iniciativas de transformação do mundo”, acredita Sérgio Magalhães.

 

Essas e outras posições foram apresentadas pelo arquiteto e urbanista em uma das etapas do Ciclo Nada Será Como Antes, promovido pelo Centro Cultural Midrash, realizado dia 20. Sérgio defendeu, ainda, a qualificação das cidades sem ter a expansão como regra e ressaltou que existem estruturas e espaços para isso no Brasil.

 

“Atualmente temos um passivo socioambiental gigantesco, fruto de 40 anos de abandono das cidades e o mais grave é que nessa expansão, sem serviços públicos e geralmente de miséria, o Estado se omitiu e deixou espaço para a bandidagem e para milícia. Uma grande parcela das cidades brasileiras, e não só o Rio de Janeiro, se encontra fora do domínio da Constituição. E isso precisa ser equacionado”, defende.

 

O arquiteto ressaltou ainda que nos últimos 40 anos a política submergiu à hegemonia econômica e o restante passou a ser secundário. Para ele a economia não percebe que se a cidade não for desejável, qualificada e se não tiver serviços públicos disponíveis para todos, ela não rende e não será instrumento de desenvolvimento para o país e terá sua potencialidade reduzida.

 

Sérgio Magalhães tem esperança de que o Brasil, juntamente com o mundo, encarre esse desafio e consiga reequacionar essa questão. “Se o Brasil perder essa oportunidade e não conseguir “retransformar” as cidades naquilo que elas precisam ser, vamos nos tornar um país com pouquíssima relevância, porque 85% da população mora em cidades e metade não tem acesso a serviços públicos”, ressalta.

 

Na construção das cidades no pós-pandemia, Sérgio Magalhães acredita que a atual geração de arquitetos tem duas grandes oportunidades de atuação: qualificar as novas moradias que ainda serão construídas e melhorar 50% das cidades que foram construídas. “As novas gerações de arquitetos estão dispostas e interessadas em atuar nas áreas pobres e ajudar a fazer com que as casas tenham outras condições, que com o Covid-19 vão adquirir relevância”, acredita.

 

No mesmo dia, no seminário virtual As Cidades em Movimento: um olhar pós Covid 19, promovido pelo CAU/PE, a arquiteta e urbanista e professora da Universidade Federal de Pernambuco Danielle Rocha, também destacou a importância da nova geração de arquitetos e urbanistas e o papel da academia na formação. Para ela, principalmente a universidade pública, onde mais de 50% da população vem de cotas e tem acesso aos assentamentos populares, deve apresentar uma visão crítica sobre o papel das cidades.

 

“Os estudantes de Arquitetura podem se formar e interferir no próprio espaço de moradia ao qual pertencem e têm suas relações de identidade, transformando aquele espaço. Temos visto recentemente o fenômeno novo desses estudantes se associarem em cooperativas e construírem coletivos. Um exemplo disso é o projeto Arquitetura Faz Bem, que está construindo pias nas ruas de assentamentos colaborando para evitar o contágio do coronavírus”, reforçou Danielle.

 

No enfrentamento da pandemia, a arquiteta e urbanista defende que as populações mais vulneráveis – sem acesso aos serviços necessários – sejam ouvidas, que estejam em rede e sejam atendidas emergencialmente e, depois, de forma estruturadora a partir de processos de urbanização e regularização fundiária. “Temos que pensar uma cidade menos excludente, mais participativa e mais justa, porque essa crise também tem nos oportunizado esse momento de reflexão porque toca a todos nós, mas não de maneira igualitária, atinge muito mais quem já está em situação de precariedade”, alerta.

 

Acesse outras resenhas de webinars e debates sobre CIDADE E HABITAÇÃO PÓS-PANDEMIA em: https://caubr.gov.br/lives-e-webinars-especial-o-futuro-das-cidades-e-habitacoes-pos-pandemia/

 

 

3 respostas

  1. Quando nossas profissão vai se impor ou ser considerada importante. Nem o Ministério das Cidades existe mais como pensar em urbanização. O CAU cria a Athis para que arquiteto trabalhe de graça? O poder público – prefeituras principalmente -, não contratam. Esse é um tema que já discuti muito em minha cidade há mais de 40 anos e só vi retroceder. Haja esperança para os nossos futuros colegas.

    1. Aprilanti, informamos que os CAU/UF destinam 2% de seus orçamentos para apoiar projetos de Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social em todo o Brasil. Como esse financiamento, arquitetos e urbanistas têm resgatado um direito fundamental do cidadão. Assim como saúde e educação, trata-se da qualidade de vida da população, garantida pela Lei 11.888/2008. Saiba mais em https://caubr.gov.br/athis

      Informamos ainda que o CAU/BR possui uma intensa atuação junto ao Congresso Nacional, com acompanhamento diário dos projetos de lei em tramitação e diálogo permanente com deputados e senadores. Todos os anos, o CAU/BR realiza um Seminário Legislativo de Arquitetura e Urbanismo em Brasília, com a participação de arquitetos e parlamentares. Veja em https://caubr.gov.br/seminariolegislativo

      Além disso, o CAU/BR tem promovido diversas campanhas nacionais e de grande alcance pela valorização profissional. Em dezembro de 2019, a campanha do Dia do Arquiteto foi vista por mais de 90 milhões de pessoas. A campanha do Dia do Arquiteto é realizada todos os anos desde 2013, sempre em TV aberta, rádio, jornais, internet e mobiliário urbano. Saiba mais em https://caubr.gov.br/todos

  2. As soluções dos coletivos são importantes, porém são insuficientes diante das soluções maiores que realmente impactarao a médio e longo prazo na qualidade de vida e resistência das comunidades. As ações que podem desenvolver as comunidades estão nas mãos dos políticos, cargos comissionados e e advogados destes. Um CAU ou mesmo CREA não tem valor legal e as questões técnicas não prevaleceem sobre as questões políticas. Sejamos realistas, não sonhadores. Quem sabe quando for obrigatório que as decisões urbanísticas sejam obrigatórias por lei dos arquitetos a situação melhore.

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