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Arquiteturas do vazio não é apenas sobre inexistências

A proposta de refletir sobre vazios surgiu para o arquiteto Paulo Bicca ao conhecer o conteúdo da primeira Trienal de Arquitectura de Lisboa, em 2007, que tinha como título “Vazios Urbanos”. A partir disso, lembra, percebeu que os vazios urbanos não se dão somente “pela ausência de arquitetura ou pela presença bem significativa de uma arquitetura bem deteriorada”.

 

Foto: Bruna Suptitz

 

Na palestra que encerrou as atividades do 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos, realizado entre os dias 9 e 12 de outubro em Porto Alegre, Bicca propôs que “outros vazios se configuram a partir da existência de determinado tipo de arquitetura que gera esse vazio, e não é decorrente, portanto, da ausência da arquitetura ou de uma arquitetura deteriorada, mas da presença de um certo tipo de arquitetura que achei por bem determinar ‘arquiteturas do vazio'”.

 

Bicca falou a uma plateia guerreira – como brincou a mediadora Dalila Bohrer ao apresentá-lo – que assistiu atenta sua palestra até o fim, enfrentando o calor de quase 40º. O arquiteto desenhou seu argumento por entre os conceitos de diferentes momentos e dedicou a maior parte da sua apresentação a estabelecer relação entre a teoria de Le Corbusier e o conceito de vazio.

 

Passando por diferentes épocas, lembrou de quando as cidades do Renascimento europeu expressaram repúdio às cidades da Idade Média, consideradas desordenadas, assim como adeptos do movimento De Stijl (Neoplasticismo) repudiavam às cidades.

 

O reflexo desse pensamento, no entendimento de Bicca, é ainda atual. “Estamos cada vez mais construindo não-cidades. Falamos muito em direito à cidade, e temos que falar, mas para ter direito à cidade precisa que a cidade continue existindo enquanto tal”, defende. A tese de Bicca versa que os vazios na arquitetura não encontram eco na arquitetura da cidade, fadada, se assim for, a se tornar uma cidade vazia.

 

O fechamento da palestra não apresenta uma conclusão, mas provoca o público a seguir pensando no tema enquanto observa as cidades de hoje – é fácil perceber, conforme nos indica o arquiteto, semelhanças das construções atuais com projetos questionáveis do passado, como a Cidade Radiante de Le Corbusier.

 

Saudação à Briane Bicca

 

No encerramento da mesa, Paulo Bicca manifestou sua esperança e anseio de que, “se outro mundo é necessário e possível, outra cidade também. Uma cidade real e para todos”.

 

Citando frases famosas de Rosa Luxemburgo – que desejou “um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres” – e Fernando Pessoa – para quem “tudo vale a pena quando a alma não é pequena” -, o arquiteto as dedicou em memória da esposa Briane Bicca, homenageada do 21º CBA.

 

“Para mim, uma pessoa que personificou esse tipo de pensamento e imbuída por ele mesmo quando não o conhecia, foi a Briane, a quem eu dedico essa saudação”, disse, sendo aplaudido em pé.

 

Saiba mais sobre a presença do CAU/BR no o 21o. Congresso Brasileiro de Arquitetos

 

Fonte: CBA

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