ARTIGOS

Artigo “Milícias: combatendo o medo com a beleza”

O controle territorial que a milícia exerce no Rio não está somente na Muzema e em Rio das Pedras. Já está em todos os lugares.

 

Controla estacionamentos no Centro do Rio, tem representação política na Câmara e na Alerj, está próxima da família presidencial, começa a controlar as escolas de samba. Opera serviços que deveriam ser públicos ou privados, como transporte, fornecimento de eletricidade, água, gás e TV a cabo. Agora, mercado imobiliário, criando um híbrido informal raro no mundo que é a urbanização criminosa.

 

As autoridades falham ou são condescendentes. O governador diz que é simples: basta o prefeito pedir reforço policial. Ou seja, não sabe e não promove nenhuma investigação. O prefeito não tem a menor ideia do que fazer.

 

O combate feito às milícias há dez anos foi descontinuado.

 

Lembremos que os bicheiros são figuras toleradas há muito tempo.

 

Logo, a sociedade também tem sido omissa, pois não esperneia e não consegue criar instituições próprias para combater isso. Esse é o momento de a elite carioca doar tempo e recursos para mudar o quadro no futuro.

 

Pois a guerra territorial parece perdida. A milícia invade agora um novo terreno: a mente.

 

Não só controla, pelo medo, as comunidades de trabalhadores da Zona Oeste como assume função aterrorizante aos cariocas. Prédios colapsam, dezenas morrem, mas continuam fazendo seus negócios ilegais sob a luz do dia.

 

Os agentes públicos já assumiram seu medo. O controle ameaça ser total. Precisa ser combatido com beleza.

 

Não, não se trata de fazer obras públicas, como sempre insistem os governantes, mas reconquistar o sonho e a esperança, primeiro de quem paga com a vida, as populações sequestradas da região, depois, da juventude local, pois é urgente matar as milícias no futuro, pelo menos.

 

Espaços públicos precisam ser conquistados. Ou feitos. Escolas, bibliotecas, teatros, centros comunitários, templos, praças são as armas da República. Observem o sucesso da Arena da Pavuna. Redes, associações, grupos, pessoas são os meios da Constituição. Moradia pública precisa ser feita, títulos de propriedade precisam ser concedidos.

 

Novas histórias precisam ser contadas, pois até as crianças já fazem armas com as mãos.

 

Enquanto alguém não for cidadão no Rio, ninguém será. Essa é a beleza do urbanismo.

 

Por Washington Fajardo, suplente de conselheiro federal pelo CAU/RJ.

 

Fonte: O Globo

MAIS SOBRE: ARTIGOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

NOTÍCIAS EM DESTAQUE

ARTIGOS

Artigo de Sérgio Magalhães: Desigualdade deve inspirar indignação

ARTIGOS

O projeto do novo Plano Diretor de São Paulo é excludente – Artigo de Nadia Somekh

ARTIGOS

Nadia Somekh no Estadão: MP do Minha Casa, Minha Vida é oportunidade histórica para colocar ATHIS em prática

ARTIGOS

Artigo: “Urbanismo corporativo ou urbanismo social, qual proposta para o Brasil?”

Pular para o conteúdo