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Carina Guedes: assistência técnica e o empoderamento feminino

Só em Minas Gerais, com base em dados do SICCAU, são cerca de 12.907 arquitetos e arquitetas no território mineiro, dos quais 8.824 são do sexo feminino. Isso representa uma parcela de 68% do total de profissionais, um cenário que se repete em vários estados brasileiros.

 

Com o intento de viabilizar a contribuição das mulheres na área da arquitetura e urbanismo, os CAU/UFs se juntam em 2019 para contar histórias inspiradoras de profissionais que fazem a diferença em seus respectivos estados. Nossa arquiteta e urbanista, indicada através de Consulta Pública, é um nome conhecido na área da Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social.

 

Quebrando barreiras

 

A mineira Carina Guedes, natural de Belo Horizonte, tem 34 anos, mas já carrega na bagagem experiências com a moradia popular de qualidade. Ingressou na arquitetura e urbanismo em 2002, quando começou o curso na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Filha de médico e psicóloga, ela afirma: “Não conhecia muito de arquitetura, mas como me diziam que eu era criativa e gostava de desenho e matemática, acabei indo por esse caminho”.

 

Conheça mais sobre essa profissional e suas visões sobre o atual lugar da mulher na sociedade atual, não apenas da arquitetura e urbanismo, em uma entrevista concedida ao CAU/MG para o Especial do Dia da Mulher de 2019.

 

Arquiteta e Urbanista Carina Guedes, idealizadora do projeto “Arquitetura na Periferia”. Foto: Acervo pessoal.

 

 

Você ingressou no mercado já na Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social? Ou atuou em outras áreas?

 

No último período da graduação resolvi que não queria mais ficar no escritório e comecei a procurar estágios em outras áreas e foi assim que fui parar no canteiro de obras. Acompanhei a construção de um shopping popular e a partir de então passei a trabalhar em uma empresa de gerenciamento de obras. Como lá eu não elaborava projetos arquitetônicos, mantive uma parceria com um colega onde desenvolvíamos projetos para pessoas que nunca tinham contratado arquitetos, moradoras de bairros mais periféricos da cidade. Eu amava o meu trabalho, ficar no canteiro de obras é algo muito dinâmico e é um lugar onde você aprende coisas novas todos os dias, mas me incomodava não ver arquitetas e arquitetos trabalhando onde as pessoas mais estão construindo: nas periferias. Foi quando tive a ideia de fazer um mestrado, em 2013, para que eu pudesse investigar o porquê disso e tentar propor algo diferente. Foi assim que desenvolvi o projeto Arquitetura na Periferia que trabalha com a melhoria da moradia de mulheres da periferia.

 

No cenário atual, você acredita que a arquitetura e urbanismo é social? Ela vem atendendo a esse quesito?

 

A arquitetura e o urbanismo são essencialmente sociais. Não existe arquitetura, nem urbanismo sem as pessoas. O que acontece é que o Brasil por ser um país com uma desigualdade social tão grande, apresenta enormes desafios para quem quer trabalhar nessa área. Além disso, a arquitetura tem um histórico de servir apenas à grandes obras e classes sociais mais privilegiadas. No entanto, essa não é a realidade do país, temos grande parte da população que ainda tem que lutar por direitos básicos como a moradia.

 

Seu trabalho com o “Arquitetura na Periferia” objetiva não apenas a assistência técnica na construção de residências, mas também estimular o desenvolvimento da confiança e da tomada de decisões. Essa missão foi alcançada? O projeto ainda está em andamento? Fale mais sobre.

 

O Arquitetura na Periferia começou com o objetivo de melhoria da moradia para mulheres. Porém, o processo de planejamento dessas melhorias, elaborado a partir de estudos do grupo de pesquisa MoM (Moras de Outras Maneiras) da UFMG e de outras experiências, por ser um processo de aprendizado e aberto para que as participantes possam propor e conduzir o seu andamento, acabou promovendo também essa que a gente chama de transformação real na vida das mulheres. Pois elas passam a se sentirem mais confiantes e independentes, levando tudo aquilo que aprenderam para a sua vida.

 

Quais os principais desafios que encontrou no decorrer do projeto? E quais os principais aprendizados?

 

A sustentabilidade financeira do projeto ainda é um desafio, no Brasil existe essa cultura de que quem trabalha com projetos sociais deve trabalhar de graça. Mas estamos nos estruturando para diversificar as nossas formas de captação de recursos e prestação de serviços. Outro grande desafio é superar o machismo estrutural, onde alguns companheiros não aceitam ou veem com maus olhos a participação da mulher em um projeto como o nosso. Já os aprendizados são muitos! Primeiramente venho aprendendo a reconhecer os meus privilégios de mulher branca da classe média, ao invés de naturalizá-los. Aprendemos também muito sobre a cultura construtiva dos autoconstrutores e como ela ainda está desconectada das técnicas que aprendemos nas universidades e como seria interessante se elas se aproximassem mais. Hoje eu vejo a arquitetura como um campo muito mais amplo do que eu via anteriormente, aprendi que uma pessoa formada em arquitetura e urbanismo pode atuar nas mais diversas áreas em que se tenha pessoas e espaço modificado.

 

A representatividade das mulheres na Arquitetura e Urbanismo é alta, só em Minas Gerais são 69% do total de profissionais. Como você avalia a real presença das arquitetas e urbanistas mineiras, dada essa quantidade, principalmente em posições de liderança e gestão?

 

Infelizmente as mulheres no Brasil ainda sofrem com as injustiças de gênero: recebem menores salários, não recebem o mesmo reconhecimento, passam por assédios morais e físicos, entre outros. No campo da arquitetura não é diferente. A grande maioria dos arquitetos consagrados e conhecidos por todos são homens. Hoje muitas mulheres são chefes ou estão em cargos de liderança, mas ainda precisam conciliar isso com as responsabilidades de criar os filhos e gerenciar a casa, por exemplo, o as sobrecarrega aumentando as suas horas de trabalho ainda que não remunerado. No entanto, percebemos um empenho crescente por parte das mulheres e dos movimentos feministas em mudar esse cenário. Estamos cada vez em maior número dentro da profissão e essas injustiças de gênero precisam ser reconhecidas e eliminadas.

 

Quais são os nomes que foram, ou ainda são, inspiração para você? Que tiveram alguma influência no seu trabalho.

 

Uma grande inspiração hoje é Marielle Franco, vereadora carioca brutalmente assassinada no ano passado, que havia apresentado projeto de Lei na cidade do Rio de Janeiro para a implementação de um programa de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social, noticiado pelo CAU/BR logo após o seu assassinato, e lutava pelos direitos das populações marginalizadas e sobretudo das mulheres negras.

 

No vídeo abaixo você pode conferir um pouco sobre o trabalho realizado pelo “Arquitetura na Periferia”, assim como depoimentos de algumas das mulheres beneficiadas pelo projeto.

 

 

 

Pela Assessoria de Comunicação do CAU/MG

2 respostas

  1. Boa tarde!
    Somos da Os3 Comunicação – uma agência de publicidade localizada em Ponte Nova, região da Zona da Mata mineira – e atendemos a Ferramentas São Romão, indústria de forjados do interior de Minas, que fica em Dom Silvério.
    A diretoria da São Romão viu matéria veiculada no Fantástico referente ao projeto Arquitetura na Periferia e se interessou muito pela temática. Queríamos entender melhor, conhecer as propostas e futuramente, firmar parcerias.
    Será possível nos passar o contato da Carina Guedes?

    Aguardamos o retorno.
    Atenciosamente

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