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COBERTURA COMPLETA: II Ciclo de Debates Cidades Inclusivas para Mulheres

O CAU Brasil inaugurou o II Ciclo de Debates Cidades Inclusivas para Mulheres com um debate ao vivo sexta-feira 19/03, transmitido via internet. O evento “Mulheres: da casa à cidade – Direitos e Cidadania em tempos de pandemia” trouxe experiências e estudos conduzidos por gestoras públicas e pesquisadoras de vários países do mundo.

 

“Sabemos que a pandemia teve efeitos mais severos para as mulheres, com sobrecarga nos trabalhos domésticos, menos oportunidades de emprego e aumento da violência”, afirmou a deputada federal Ângela Amin (PP-SC). A Câmara dos Deputados, através da Secretaria da Mulher, apoiou o evento, ao lado do CAU/DF, das entidades que compõem o CEAU e da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

 

 

A presidente do CAU/BR,  Nadia Somekh, lembrou que a maioria dos lares do país são geridos por mulheres, e por isso precisam de um olhar diferenciado. “Nossa missão é melhorar as moradias por meio da Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social. A população brasileira ainda não percebeu o quanto arquitetos e urbanistas podem colocar nossos saberes e nossa prática para melhorar as cidades”, afirmou. Nadia agradeceu às deputadas Professora Dorinha (DEM-TO) e Carmen Zanotto (Cidadania-SC), da Secretaria da Mulher na Câmara dos Deputados, por incluírem esse tema na agenda da Câmara dos Deputados.

 

A arquiteta e urbanista Ana Maria Reis de Goes Monteiro, representante do Colegiado Permanente da Entidades Nacionais dos Arquitetos e Urbanistas (CEAU-CAU/BR) lembrou que nas faculdades da área, mais de 70% dos estudantes são mulheres. “Precisamos refletir sobre o ensino para que as futuras arquitetas e urbanistas tenham, na sua formação, ferramentas para continuar a lutar por cidades mais justas e inclusivas em sua atuação profissional”, disse.

 

Mônica Blanco, presidente do CAU/DF, falou das desigualdades de gênero na profissão e nas cidades como um todo. “Nós mulheres enfrentamos não só questões de desigualdade salarial, mas também temos dificuldades na falta de pertencimento aos espaços que ocupamos nas cidades”, disse. “Esses espaços foram durante anos pensados por homens e para os homens. Para nós mulheres são espaços conservadores, que tiram nossa liberdade de ir e vir e ameaçam nossa segurança”.

 

CIDADES, GÊNERO E INCLUSÃO

 

Na primeira palestra do evento,  Clémentine Tribouillard, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apresentou o Guia Prático e Interseccional para Cidades Mais Inclusivas. Segundo  a especialista em habitação e desenvolvimento urbano do BID, a publicação visa trazer elementos sobre todas as diferentes realidades das pessoas que se movem pelas cidades. “Funcionalidade para todos é pensar o que cada grupo precisa para usufruir o espaço. O espaço físico precisa ser projetado pensando nessas necessidades: banheiros públicos, largura das calçadas, mobiliário urbano”, disse Clémentine, coautora do guia com Sarah Gamrani.

 

No campo da mobilidade urbana, ela explicou a diferença entre atividades produtivas – que supõem deslocamentos de casa para o trabalho e vice-versa – e atividades reprodutivas, que são aquelas geralmente delegadas às mulheres: levar e buscar as crianças, fazer compras, etc. “Isso implica em mobilidade mais intensa e mais complexa. Somam-se a isso as questões de segurança, que influenciam na escolhas da mobilidade”, afirmou.

 

O Guia Prático nasceu da percepção do BID que governos e prefeituras têm muito pouco conhecimento sobre como aplicar as questões de gênero e diversidade no planejamento urbano. Por isso, traz conceitos como inclusão, diversidade e interseccionalidade na cidade para o planejamento das cidades, além de recomendações de leitura, marcos legais importantes e exemplos de boas práticas. Entre esses exemplos, está o I Diagnóstico de Gênero da Arquitetura e Urbanismo, produzido pelo CAU Brasil.

 

Clémentine destaca que a participação dos diversos públicos no planejamento é fundamental. A criação de Conselhos de Mulheres, por exemplo, ajudaria a trazer outras perspectivas para o debate e mais pluralidade na cidade. “Nós achamos natural que toda a sinalização urbana seja masculina. Em São Paulo, apenas 16% dos logradouros têm nomes de mulheres”, aponta.

 

Clique para baixar o Guia Prático e Interseccional para Cidades Mais Inclusivas

 

POLÍTICA URBANA COM PERSPECTIVA DE GÊNERO 

 

Responsável pelo Departamento de Resiliência Urbana de Barcelona, na Espanha, a arquiteta Ares Gàbas discorreu sobre políticas urbanas do ponto de vista do gênero. Ela é encarregada de dar apoio na prevenção de riscos e enfatizou a importância de não colocar o foco somente na recuperação e na resposta, mas sim na prevenção de riscos e de vulnerabilidades.

 

Segundo a arquiteta, uma vez que os riscos não afetam a todos por igual , e que as mulheres formam um grupo mais vulnerável – também por motivos estruturais como acesso à habitação e à moradia e a nível de serviços como água e energia -,  é preciso pensar na forma como construímos e em como os serviços são fornecidos dentro das cidades. Além disso, a palestrante ressaltou a necessidade de pensar do ponto de vista das cuidadoras, que geralmente são mulheres e muitas vezes possuem dificuldades para trabalhar.

 

Na pandemia , principalmente para mães em lares monoparentais, a população feminina se tornou mais vulnerável a riscos. Com o fechamento das escolas, as mulheres experienciaram uma sobrecarga de cuidados, tendo que conciliar as atividades dentro de casa com os cuidados com os filhos. Além disso, Ares enfatizou o aumento da violência doméstica durante a pandemia. Segundo Ares Gàbas, o que as mulheres precisam fazer nos espaços públicos é diferente dos homens, também pelo fato de estarem mais presentes em atividades relacionadas ao cuidado, à atenção, ao atendimento nas escolas e ao atendimento ao público.

 

A arquiteta mostrou as políticas que estão sendo realizadas em Barcelona em relação a gênero. Um dos trabalhos é um Manual de Urbanismo da Vida Cotidiana. Nele, observam vários elementos urbanos, como as atividades desenvolvidas ao redor e os horários de uso dos espaços. Também traduziram alguns elementos técnicos que se dedicam ao desenho do espaço público que podem ser aplicados nos projetos a partir de uma perspectiva de gênero.

 

A IMPORTÃNCIA DOS PARQUES NO COTIDIANO DAS MULHERES

A terceira palestrante foi Cláudia Valenzuela, diretora e representante do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS) no Brasil. Ela falou sobre o estudo realizado pela entidade chamado “Parque para todas e todos” que serve como guia para inspirar a construção de espaços mais diversos a partir da inserção da perspectiva de gênero em parques urbanos, seja em sua implantação ou gestão.

 

Claudia destacou a necessidade de se pensar em gênero e diversidade ao se construir novos parques ou reestruturar os já existentes sobretudo por meio do diálogo com todos os grupos que possam frequentá-los. “Se não pensarmos em gênero, esses espaços não serão para todos. Se eu quero incluir, tenho que dialogar, ouvir, para que assim seja possível planejar adequadamente e, posteriormente, executar”, destacou.

 

Conforme mostra o estudo, o planejamento, execução e gestão de parques deve ter mulheres e meninas envolvidas em todas as suas fases e ações, sendo ouvidas e participando das decisões que impactam seu bem-estar e qualidade de vida. A palestrante salientou ainda que o medo e a violência são impeditivos para que meninas e mulheres tenham tranquilidade para frequentar parques. Por isso, questões como mobilidade e segurança devem ser consideradas ao se pensar em espaços públicos.

 

Mestre em Educação, especialista em gestão social, Cláudia Valenzuela frisou que debater gênero na infraestrutura, no planejamento de cidades, ainda é algo novo, mas é por meio de discussões semelhantes a essa que o tema tem se tornado conhecido para que se torne lugar comum e gere a inclusão. “Nova visões de infraestrutura sensível a gênero e diversidade são uma oportunidade de criar perspectivas na urbanização e cidades e parques e estimular novos e mais saudáveis comportamentos sociais”.

 

CARTOGRAFIA DA COVID-19 E A MULHER NO DF 

Este foi o tema do quarto painel apresentado pela arquiteta e urbanista Carolina Pescatori. Ela mostrou o trabalho realizado por meio do Observatório Amar. É. Linha, centro de estudos feministas em Arquitetura e Urbanismo da UnB (FAU-UnB), composto por uma equipe majoritariamente feminina de docentes e discentes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Instituto de Física.

 

Para compreender como a Covid-19 impacta a vida das mulheres no Distrito Federal, a pesquisa foi realizada por meio do cruzamento de dados oficiais divulgados pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) e pela Secretaria de Segurança Pública. Com isso, as pesquisadoras passaram a mapear o percurso da Covid-19 e como ela atinge de forma desigual homens e mulheres, traçando um panorama dos impactos da pandemia sob os aspectos de gênero, raça, faixa etária, geolocalização e infraestrutura urbana.

 

A pesquisa envolve vários aspectos relativos às mulheres, como trabalho, reprodução social, lazer e autocuidado, apropriação dos espaços públicos, acesso aos serviços de saúde e mobilidade. No caso do DF, o vírus logo chegou às periferias e passou a atingir majoritariamente as mulheres das classes trabalhadores, que se deslocam por meio do transporte público e sofrem com a falta de infraestrutura das casas e das cidades.

 

OS IMPACTOS DA PANDEMIA NA MOBILIDADE URBANA DAS MULHERES

O último debate foi apresentado pela analista técnica da Área de Trânsito e Mobilidade da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Luma Costa.  A arquitetura e urbanista trouxe os desafios da gestão municipal em meio à pandemia e quais os impactos para as mulheres e sua mobilidade.

 

A analista mostrou, com dados, que municípios abaixo de 20 mil habitantes representam 70% dos municípios não contemplados nas políticas de mobilidade e abrigam 15,4% da população do país (31,2 milhões de habitantes). Com isso, as mulheres também são impactadas, especialmente nas cidades predominantemente rurais, pois além de serem a maioria em transporte público a prioridade nesses locais não é a mobilidade urbana, mas sim o transporte de carga.

 

Para oferecer mobilidade urbana de qualidade para todos seus habitantes, Luma Costa ponderou que a estrutura mínima que um município precisa ter envolve primeiramente avaliar a integração entre as cidades próximas dentro do Sistema Nacional de Trânsito. “Os municípios precisam ter um órgão municipal de trânsito para ter um plano municipal de mobilidade e, atualmente, apenas 30% dos municípios têm esse tipo de órgão”, destacou.

 

Outro desafio apontado pela analista foi a malha rodoviária municipal, que em boa parte não é pavimentada. Ela explicou que em grandes centros, geralmente, essa é uma questão já sanada, mas a realidade nos municípios brasileiros é diferente, o que se torna mais um obstáculo para garantir mobilidade e especialmente para se pensar em gênero.

 

VEJA NO VÍDEO ABAIXO A ÍNTEGRA DA TRANSMISSÃO DO  II CICLO 

 

 
 

 

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