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Deise da Silva Souza: símbolo da inserção das novas gerações na Arquitetura

Em 2010, o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já indicava que a população feminina no país era maioria: 51% versus 49% de homens. No cenário nacional da Arquitetura e Urbanismo, elas representam 63,5%. Na Bahia, dos 5.853 profissionais registrados, 3.599 são mulheres.

 

O Dia Internacional da Mulher é uma data que sempre enseja reflexões sobre o histórico de lutas em busca de reconhecimento de direitos e melhoria das condições de trabalho. Diversos episódios ao redor do mundo contribuíram para o fortalecimento das pautas das mulheres, repercutindo para que, em 1975, o dia 8 de março fosse oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de lembrar as lutas e conquistas sociais, políticas e econômicas alcançadas por elas.

 

Para o CAU/BA, esta sempre é uma data bastante especial. Desde a implantação até os dias atuais, sempre fomos um Conselho majoritariamente feminino. Na gestão fundadora do CAU, havia apenas quatro mulheres presidentes em todo o país; dentre elas, a arquiteta e urbanista Jandira França, primeira presidente do CAU/BA, mulher reconhecida por sua trajetória profissional sólida e dedicada à Arquitetura e Urbanismo, engajada sobre as causas da cidade, de natureza atuante e colaborativa.

 

A atual gestão é formada por onze conselheiras, dentre elas, a arquiteta e urbanista Gilcinéa Barbosa da Conceição, segunda mulher a presidir o Conselho. Além disso, o quadro de colaboradoras conta com a força de trabalho de catorze mulheres, entre funcionárias, estagiárias e terceirizadas.

 

Pelo segundo ano consecutivo, foi aberta enquete para extrair a arquiteta e urbanista mais indicada por outros colegas e seguidores nas redes sociais, representante da homenagem do CAU/BA a todas as profissionais do Estado. Com 29% das indicações, a arquiteta e urbanista Deise da Silva Souza será a protagonista da nossa ação. Deise tem 34 anos, é natural de Campo Formoso e é formada pelo Centro Universitário Jorge Amado e simboliza a inserção das novas gerações na Arquitetura e Urbanismo.

 

 

Confira a entrevista.

 

Na maioria das respostas em que foi citada, as pessoas falavam que você é um exemplo de superação e enfrentou muitos percalços para se formar. Pode contar um pouco de sua trajetória, desde o início do curso até sua formatura?
A formação em Arquitetura e Urbanismo foi uma das etapas que mais marcou a minha vida. Logo que entrei no curso, descobri que estava grávida. Fiz o primeiro semestre e tranquei. Depois disso, eu tentava fazer o semestre e trancava novamente por falta de recursos financeiros. Passou um tempo e consegui o FIES. Comecei a vender brigadeiro para pagar o material da faculdade e me bancar mesmo. Na época, eu trabalhava no shopping, como vendedora. Saia do trabalho e ia direto para a faculdade (ou o contrário). Era sempre uma loucura. Eu sou mãe solo. Então, aconteceram momentos em que tive de fazer trabalhos com meu filho doente; ou precisar repetir a prova por não conseguia comparecer, pois estava na emergência com ele. Estudava no meu horário de lanche, levava o computador para todos os lugares, de ônibus mesmo. A formatura veio dez depois de eu ter entrado na faculdade. Muita gente dizia que eu tinha de desistir. Mas era meu sonho! Demorou mas eu consegui. Eu passaria o dia inteirinho contando para vocês tudo o que passei para ter esse CAU hoje, rs.

 

Como enxerga a mulher no mercado da Arquitetura e Urbanismo hoje? Acredita que houve melhora no cenário? Ainda enfrenta dificuldade para ter seu trabalho reconhecido?
Bom, eu acredito que esse mercado é muito mais feminino. Mulheres incríveis se destacam no mercado hoje, construindo suas jornadas e histórias de vida com muita dedicação, todos os dias. Sim, acredito que ainda há o que melhorar, sempre há. Ainda assim, não tenho tido muita dificuldade para conquistar meu reconhecimento.

 

O que te levou a escolher a Arquitetura e Urbanismo?
Eu amo Arquitetura e Urbanismo. É meu meio de ajudar o mundo. Eu acredito que os espaços de trabalho, de descanso, de moradia, etc, refletem em como nos sentimos. Eu gosto da ideia de ter certeza de que sou capaz de transformar qualquer espaço em algo melhor, mais agradável e, com certeza, trazer valor e qualidade de vida para o meu cliente.

 

Para você, o que significa ser arquiteta e urbanista?
É a concretização de um sonho, é tudo o que eu sempre quis.

 

Quem é a sua referência como arquiteta? Por quê?
Zaha Hadid. Ela conseguiu chegar em vários lugares que somente homens chegaram, numa época em que isso não era comum. Além dos projetos dela serem incríveis!

 

O que você procura passar para os seus clientes quando apresenta um projeto?
Sempre compartilho que o projeto é feito a quatro mãos: as minhas e as dele. Eu sei a técnica, mas ele é o dono do espaço e sabe como quer se sentir ali e, principalmente, o que ele quer transmitir com aquele projeto.

 

A Arquitetura e Urbanismo tem potencial transformador para a qualidade de vida das pessoas. Ainda assim, está distante da grande maioria da população. Moradia, mobilidade, acessibilidade, sustentabilidade, preservação do patrimônio são apenas alguns exemplos de onde ainda se pode melhorar. Para você, como a sua profissão pode, de maneira efetiva, se aproximar – e transformar – as realidades menos favorecidas?

A Arquitetura está distante da grande maioria da população porque o poder público ainda não entendeu como direito básico, assim como é com a saúde. A arquitetura precisa chegar a esses lugares, não pode mais ser apenas um serviço elitizado. A população precisa ter acesso a esse tipo de serviço; evitaria muitos dos desastres que acontecem hoje, a exemplo dos deslizamentos, das construções erradas, entre outros. Nós, arquitetos, temos conhecimento para construir casa padrão A, B ou C. Então, se as prefeituras disponibilizassem esse serviço para a população, com certeza transformaria a realidade de muitas famílias.

 

Acredita em alguma fórmula para o sucesso na área? Se sim, poderia nos dizer qual?
Existe sim e é a mais clichê de todas: ame o que faz e trabalhe muito.

 

Por Ana Paula Couto Alves e Cássio Moreira (estagiário) – CAU/BA

 

Veja também:

 

CAU/BR:  DIA INTERNACIONAL DA MULHER: as ações do CAU em defesa da Equidade de Gênero

 

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