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Falece a arquiteta, urbanista e paisagista Alda Rabello Cunha, pioneira de Brasília

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil lamenta a morte da arquiteta, urbanista e paisagista Alda Rabello Cunha.

 

O falecimento ocorreu às 02h40 de hoje (07/01), no Hospital Santa Lúcia de Brasília, por complicações decorrentes de uma insuficiência cardiorrespiratória crônica. Nascida em Corumbá, a arquiteta tinha 92 anos de idade. O sepultamento do corpo da arquiteta ocorrerá no cemitério Campo da Esperança, amanhã (8/1). em Brasília. O velório será na capela 6 a partir das 12h. Às 14h, o cortejo sai em direção ao jazigo. O sepultamento será as 14h30.

 

O arquiteto e urbanista Guivaldo D´Alexandria Baptista, presidente interino do CAU/BR, lembrou que Alda Rabello Cunha foi pioneira em várias frente, a começar da escolha da profissão nos tempos em que a maioria era formada homens. Com 16 anos, foi aprovada em segundo lugar no vestibular da Escola Nacional de Arquitetura da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo uma das quatro mulheres da turma, que tinha cerca de 40 estudantes.

 

Formada, Alda Rabello Cunha seria pioneira na construção de Brasília, onde chegou antes mesmo da inauguração da capital federal. “Entre outros trabalhos, ela realizado diversos projetos de integração paisagística para Oscar Niemeyer e João Filgueiras Lima (Lelé), seu companheiro por mais de 50 anos”.

 

Com Lelé, Alda  teve três filhas: Luciana, Sônia e a arquiteta e urbanista  Adriana Rabello Filgueiras Lima. Deixa os netos João, Gustavo e Paulo.

 

O arquiteto e urbanista Haroldo Pinheiro, ex-presidente do CAU/BR, e parceiro de Lelé em diversos projetos, também lamentou o falecimento. “Embora preferisse discrição, seu talento nas diversas áreas da profissão, do design ao paisagismo, era enaltecido por personagens referenciais como Niemeyer e Lucio Costa. Como cidadã das mais inteligentes e sensíveis que conheci, além desse destaque profissional amplamente reconhecido, mantinha posições políticas firmes em favor da dignidade, solidariedade e igualdade humana”.

 

A arquiteta e urbanista foi servidora pública quase a vida toda. O primeiro cargo foi no Grupo de Trabalho de Brasília, do antigo Departamento Administrativo do Serviço Público, ainda no Rio. “Era a equipe que preparava os complementos da cidade, como é que se iria ocupar Brasília, que estava em construção. Fiquei encarregada de pensar e desenhar os padrões para o mobiliário, que precisava ficar pronto em sete meses.”, contou em entrevista dada ao CAU/BR em 2015, parte de uma série em homenagem às arquitetas na passagem do Dia da Mulher.

 

A profissional contou ter inovado ao propor o julgamento em duas fases para a confecção dos móveis – uma de preço e uma de projeto. E mostra o sofá em que estamos sentados, pensado por ela naquela época. “Não é ruim, não é extravagante. É funcional. E foi o possível”.

 

Como funcionária do Ministério da Agricultura se dedicou à arquitetura paisagística, tendo realizado projetos de integração paisagística para Oscar Niemeyer – os CIEP, no RJ, a Catedral de Brasília, entre outros – e incontáveis obras de João Filgueiras Lima, o Lelé.

 

Na entrevista, ela falou da importância da obra do arquiteto e urbanista João Filgueiras Lima, o Lelé.  “Tem que haver os ‘niemeyers’, pessoas que alcem os voos mais altos. Mas tem que haver os ‘lelés’, aqueles disciplinados, que fazem obras possíveis. Porque é preciso atender às pessoas. Acho que Arquitetura é isso, solucionar a ocupação urbana e a habitação de forma funcional.”

 

Também lamentou a incompreensão de muitos sobre o paisagismo: “As pessoas destratam o paisagismo. Como é uma coisa mais vulnerável, se sentem no direito de mexer, mudar tudo. Em pouco tempo, seu projeto não está mais ali”. Mas foi nessa atividade que produziu o trabalho de que tem mais orgulho. “O que mais gosto de ter feito é o paisagismo dos CIEP [as escolas de tempo integral conhecidas como “Brizolões”], no Rio, que fiz para o Oscar Niemeyer, que assinou os prédios. Aquele padrão de grama e concreto agradou muito na época.”

 

Na opinião de Alda Rabello Cunha, “o papel da mulher na Arquitetura não tem nenhuma especialidade. Somos iguais aos homens. Casei, fui esposa, tive filhas. Mas nada disso me fez me achar outro tipo de profissional. Quando perguntam o que faço, digo que sou ‘arquiteto’. Não tem diferença.”

 

Ao final da entrevista, o jornalista Emerson Fraga pediu para ela deixar uma mensagem às colegas arquitetas. “Elas precisam entender que Arquitetura é funcionalismo. Uma cidade com Arquitetura e Urbanismo pensados é uma cidade que funciona – e é isso. As pessoas não precisam perceber a Arquitetura o tempo todo. Elas só precisam se sentir bem. Não tem que ficar admirando. É o racional, o simples, o não-enfeite. Arquiteto não é decorador, jardineiro, não pode ser. A Arquitetura é muito maior.”

 

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