CATEGORIA

Lembranças de um programa que mudou Porto Alegre

Foi uma espécie de reencontro no qual o assunto foi um só: o legado do Programa Monumenta para Porto Alegre. Para relembrar tudo o que foi conquistado, os arquitetos Luiz Merino, Dóris de Oliveira e Camila Warpechowski, além do historiador Pedro Vargas, se reuniram no Centro Cultural Erico Verissimo para a sessão temática Programa Monumenta em Porto Alegre. O momento também foi de homenagens à arquiteta Briane Bicca, que trouxe o programa para a cidade e trabalhou nas obras relacionadas a ele até sua morte, no ano passado.

 

Foto: Cintia Rodrigues/CBA

 

Início dos anos 2000. Recém-chegada de Brasília, onde trabalhou por décadas, a arquiteta Briane Bicca entrou na Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre com uma novidade. Era um programa que seria aberto logo, com a proposta ousada de revitalizar os sítios históricos das cidades brasileiras em que o patrimônio edificado tivesse importância. Pela primeira vez, a ideia era ir além dos locais mais conhecidos, como Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. Com recursos vultuosos, o Programa Monumenta foi concebido para ser um marco para as cidades históricas. E Porto Alegre não podia ficar de fora dele.

 

– Já tínhamos algumas ações para a conservação do patrimônio na cidade, mas eram tímidas. Alguns imóveis protegidos, mas era tudo em escala mínima, não tínhamos um conjunto urbano tombado. A Briane acreditava tanto naquilo que não parou mais de trabalhar para que pudéssemos participar. E, claro, como tudo o que ela fazia, deu certo – comentou Merino.

 

Em uma reunião inédita de forças, técnicos do Iphan, do Iphae e da Secretaria Municipal de Cultura se debruçaram sobre as possibilidades para o tombamento do Centro Histórico, que incluiu a Praça da Alfândega, a Rua da Ladeira (atual General Câmara), a Biblioteca Pública, o Theatro São Pedro, a Praça da Matriz e o Palácio Piratini. Com o corredor histórico tombado, as portas para o Monumenta estavam abertas. A obra de arranque foi o Pórtico Central do Cais Mauá, da qual Briane participou ativamente. No Rio Grande do Sul, além de Porto Alegre, Antônio Prado e Pelotas foram contempladas com recursos para projetos. Antônio Prado, algum tempo depois, abriu mão de participar. Já Pelotas teve seis obras aprovadas.

 

Uma das obras mais impactantes para os técnicos foi a restauração da Igreja das Dores, com uma modalidade de financiamento que envolveu recursos públicos e também dinheiro da paróquia, arrecadado pela igreja e pela comunidade. Outra obra inesquecível foi a Praça da Alfândega, que envolveu escavações arqueológicas que interrompiam os trabalhos a qualquer momento.

 

– A pesquisa arqueológica ocorreu em todas as etapas, em todas as obras. Mas na Praça houve escavações, o que complicava tudo. Mas era muito rico, as descobertas foram preciosas. Encontramos, por exemplo, as escadarias do porto, que foram aterradas para a construção da Praça – revelou Dóris.

 

Outros imóveis foram restaurados com recursos do Monumenta. Entre eles, o Museu Hipólito José da Costa, o Palácio Piratini, o MARGS, o Memorial do Rio Grande do Sul e a Pinacoteca Ruben Berta. Uma das maiores inovações do programa foi a possibilidade de restaurar imóveis privados com recursos do programa, emprestados aos proprietários a juro zero e com 15 anos de carência. Muitos casarões até então abandonados foram recuperados nessa modalidade. Quando os proprietários começaram a pagar os empréstimos, o dinheiro foi para um fundo destinado a novos empréstimos, com o objetivo de incentivar o restauro de mais casas particulares. Uma mudança na legislação proposta pelo atual governo de Porto Alegre, no entanto, ameaça extinguir esse fundo e eliminar a possibilidade de incentivo para novas obras de recuperação.

 

– Esse foi mais um desafio vencido pela Briane. A maioria dos proprietários de imóveis históricos considera a restauração uma perda de dinheiro. Na época, todos queriam derrubar os prédios para fazer estacionamentos. Mas a Briane conversava com todos, argumentava, convencia. Ela foi incansável, gerou um comportamento favorável à preservação – relembrou Merino.

 

Favorecer a preservação, aliás, foi o objetivo central do Monumenta em todas as cidades. Mais do que apenas restaurar prédios, a ideia era desenvolver uma cultura de conservação e de interação com o patrimônio, em uma relação de carinho e pertencimento. Nesse sentido, desenvolver projetos culturais e comerciais nos sítios históricos foi um pilar fundamental do programa. A educação patrimonial também foi uma premissa para potencializar os recursos investidos nas restaurações. Em 2013, com o fim oficial do Monumenta, começou o PAC Cidades Históricas, com a mesma proposta. Esse novo programa também foi trazido a Porto Alegre por Briane Bicca.

 

Fonte: CBA
MAIS SOBRE: CATEGORIA

NOTÍCIAS EM DESTAQUE

ATENDIMENTO E SERVIÇOS

Central de Atendimento do CAU/BR não funcionará na Sexta-feira Santa

ACERVOS

Seminário TOPOS:  CAU/BR e FAU/UnB promovem debate sobre a importância de acervos e arquivos de urbanismo no país 

#MulherEspecialCAU

“Arquiteta, na solidão da sua profissão, seu nome pede valorização!”, defende Tainã Dorea

Assistência Técnica

Mais médicos/Mais arquitetos: mais saúde para o Brasil (artigo de Nadia Somekh no portal do Estadão)

Pular para o conteúdo