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MV Bill: “Construção e mudança da sociedade são feitas em conjunto”

“Eu não sei nada de Arquitetura, mas acho que falei muito de Arquitetura. Falei de moradia, falei de condição social, falei de saneamento básico, falei de carteiro que não chega – que parece uma coisa boba, mas que mexe com a dignidade. Na hora, vi muita comoção, mas depois que passou o tempo, como tudo no Brasil, foi caindo no esquecimento. O assunto morreu”, contou o rapper MV Bill, co-fundador da Central Única das Favelas (CUFA), sobre encontro com o presidente da República e com 11 ministros à época do lançamento do documentário “Falcão – Meninos do Tráfico”, que ficou famoso nacionalmente após exibição no programa “Fantástico”, da TV Globo. O relato foi feito em palestra na última segunda-feira (09/10), durante a II Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo.

 

MV Bill destacou a importância do diálogo entre os moradores da favela e representantes de vários segmentos da sociedade, entre eles o dos arquitetos e urbanistas. “A construção e mudança da nossa sociedade são feitas em conjunto”, afirmou. A mediação da palestra ficou por conta da arquiteta e urbanista Bete França, que participou do domingo (08/10) da mesa-redonda “O mundo da resiliência”. O rapper estava com participação confirmada na atividade e não pôde comparecer por problemas de agenda, mas fez questão de participar do evento. 

 

Na palestra, o artista criticou a falta de participação popular nas decisões sobre a cidade. “Vemos conjuntos habitacionais construídos a toque de caixa. Muitos são entregues destruídos, com rachaduras. Vemos equipamentos que foram construídos com dinheiro público, mas sem consulta à população. Quando o morador de favela vê a dona Maria construindo sua casa tijolo a tijolo, ele não vai destruir, porque se sente parte daquela construção. Quando um político chega com sua caravana para fazer uma inauguração, sem consultar ninguém, o morador não se sente parte daquilo”, criticou.

 

 

MV Bill e Bete França

 

Ao falar da Central Única das Favelas (CUFA), ONG que fundou junto com Celso Athayde, ele afirmou que a instituição tenta integrar o mundo da favela ao “asfalto” e a ‘todos os mundos’, parafraseando o tema do evento. Ele conta que o morador de áreas periféricas tem poucas oportunidades de empreender e a Central foi criada para oferecer cursos para que o conhecimento fosse, posteriormente, replicado pelos próprios moradores. “A CUFA nos deu uma ideia maior do que é a favela. Deixamos de vê-la como um lugar carente e passamos a vê-la como um lugar potente”, contou.

 

 

A falta de oportunidades nas favelas foi um dos elementos do documentário “Falcão – Meninos do Tráfico”. “Queríamos entender por que os jovens estavam buscando o tráfico como modo de ascensão social e morrendo”, lembrou. O filme contou a história de 17 meninos que se envolveram com o tráfico de drogas. Nos dois anos de filmagem, apenas um deles sobreviveu – curiosamente, um que tinha o sonho de ser palhaço.

 

MV Bill é rapper e escritor

 

MV Bill também demonstrou grande frustração com o sistema político e se disse pessimista em relação ao abandono da presença pública nas comunidades. “Quando as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) foram criadas, elas viriam junto com um ‘choque de ordem’, que traria urbanização, saneamento e dignificaria a moradia das pessoas. Mas isso só funcionava enquanto a televisão estava lá mostrando”, criticou.

 

Para ele, as UPPs trazem uma paz momentânea, que é prejudicada pela falta de continuidade das políticas públicas quando há mudança de governo e também pela corrupção da polícia. “Há muitas forças acima do crime. Como se explica que um lugar onde quase ninguém fala inglês tenha tantas armas americanas e russas? Temos um desafio muito maior de combater a corrupção. Quando você vê um policial correndo atrás de um bandido não para prendê-lo, mas para pegar um fuzil 762 que vale R$ 20 mil, aí a gente vê que está diante de uma tragédia”, questionou. “Ainda que as UPPs fossem a salvação, o Rio de Janeiro tem mais de 800 favelas. As UPPs estão em pouco mais de 30, formando um cinturão em torno dos locais que iam receber os grandes eventos [olímpicos]”, observou.

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