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“Não adianta discutir com a Rosa. Ainda bem: ela sempre tem razão, o projeto fica melhor”

rosa

 

rafael
Rafael Birmann

 

Boa noite à todos!
 

Hoje estamos aqui para falar de uma rosa. Nada mais difícil. Shakespeare falando pela boca da Julieta já perguntava: “o que é um nome? Aquilo que chamamos de rosa, tivesse outro nome, haveria de ter o mesmo cheiro doce”. Outro poeta disse que “uma rosa é uma rosa, é uma rosa…”.
 

Nesta homenagem, coube a mim, em nome dos clientes da Rosa, falar sobre esta rosa. Eu que não sou nem escritor nem poeta, e para piorar ainda mais, sou empresário do ramo imobiliário. Nós empresários somos conhecidos pela ganância, volúpia por resultados, tudo sacrificando, em especial as cidades, que imolamos na pira dos lucros imobiliários. Tenho certeza que muitos nessa plateia de arquitetos paisagistas não irão acreditar em mim- mas isso é pura lenda urbana. Mas eu não posso deixar de admitir que alguns empresários têm um pouco dessa visão tosca. E, paisagismo era aquilo que muito empresários do ramo lembravam quando estavam para entregar um prédio e diziam: “Ei, chama aí um paisagista qualquer para fazer um jardinzinho nesse terreno que sobrou do estacionamento”.
 

Os Paisagistas assim como empresários imobiliários, também tinham uma imagem ruim. Era assim, e não é mais muito graças a paisagistas como a Rosa. A influência dela no meio tanto dos próprios paisagistas como dos empresários foi imensa e se graças a Rosa os paisagistas hoje tem uma excelente imagem. Para nós empresários ainda faltou alguém com nome de flor para mudar nossa imagem. Eu, como cliente da Rosa, apreendi muito. Eu ia lá e dizia: “Rosa precisamos resolver um problema. Tem essa arvore grande e velha, ocupando um espaço enorme no meio do meu projeto…” A Rosa resolvia. Fazia com que eu mudasse o projeto. “Mas Rosa, assim vai sair muito caro…vai prejudicar o resultado….” Mas acabava que não só o projeto saía melhor como vendia melhor. Assim eram as soluções da Rosa. Nunca da forma como você pensava, mas a Rosa sempre resolvia.
 

Tive inúmeras discussões com a Rosa. Imagino que todos seus clientes tinham. “Mas Rosa… Rosinha….” Nada adiantava. A baixinha era firme. No meio empresarial ela tinha uma fama terrível. Não adianta discutir com a Rosa. “E se a Rosa não concordar, que a gente faz? Ah….”. Muitas vezes discutíamos, brigávamos, relutávamos em aceitar as ideias da Rosa. E eu, e todos meus colegas empresários, sempre acabávamos perdendo essas discussões. A Rosa, no final, sempre prevalecia, ou melhor, as suas ideias venciam. As propostas da Rosa eram, tem que admitir, invariavelmente, a melhor solução. Ninguém ganhava a discussão com a Rosa. Ainda bem, pois ela sempre tinha razão, o projeto sempre ficava melhor. Não sei quantos projetos a Rosa influenciou, mas esta cidade tem uma dívida com a ela. Hoje, nós clientes da Rosa, aqueles empresários que sempre perdiam as discussões, hoje, sabemos que aquelas derrotas foram grandes vitórias.
 

A Rosa trazia esse amor pelo verde e conseguia impor sua visão. Ela estava contra nós, os empresários, mas era a favor nosso que ele brigava conosco mesmo. A Rosa acabou com o jardinzinho. Ele fez o verde virar o paisagismo, num sentido mais amplo, virou sustentável, ecológico, sua briga, hoje a gente sabe, era pelo meio ambiente. A Rosa defendeu o verde e o sustentável quando isso nem era assunto, nem ao menos se usava a palavra. Sustentável era coisa de calculista falando de vigas e colunas. Rosa foi também uma das arquitetas que trouxe o urbanismo para o paisagismo. Era um paisagismo maior, ligado a natureza e a cidade. Mais que paisagista a Rosa foi uma urbanista, que defendeu o urbano quando a grande obra urbana de muitos urbanistas eram avenidas mais largas e grandes viadutos. Porque dessas grandes conquistas da Rosa? Acredito que era porque quando ela falava, trazia uma carga moral e ética que calava todos os presentes.
 

Sua fala era carregada de respeito e credibilidade além de divisões, além das posições, era um respeito valorizado, across the board. Respeito não só daqueles que concordavam com ela, mas inclusive daqueles que discordavam. Todos a respeitavam por que sabiam da fibra e dos valores da Rosa. E não tem como uma pessoa defender grandes valores sem ter grande ética pessoal. Ética e valores é o que essa pequena flor irradiou a vida toda. Rosa, pequenina e com esse nome de flor, sempre defendeu suas ideias com a coragem e a determinação de um gigante, sem jamais curvar seus princípios a nenhum dos bullies, dos assim ditos poderosos ou mesmo dos “cabeça dura”, dentre os quais até eu me incluo, enfim, jamais se curvou a nenhum desses personagens difíceis que a gente encontra pelos caminhos da nossa vida profissional.
 

A força dessa baixinha era enorme. Quantos empresários não falavam assim: “precisa alguém de credibilidade, chama a Rosa”. Mas, diga-se de passagem, todos sabiam que a Rosa não defendia nenhum projeto que ela mesma não acreditasse. ‘Chama a Rosa, mas antes tem que convencer ela muito bem das verdes intenções do projeto”. A pequenina Rosa era, e ainda é, poderosa. Poderosa, poder da rosa, a rosa que pode. A Rosa na defesa de suas ideias, enquadrava secretario, enquadrava prefeito e até governador. Não havia grandalhão que não se curvasse perante a força dessa rosinha. E que cabeça dura! Nada movia ela das suas ideias. Rígida sim, mas sem jamais abandonar a doçura, a simpatia, e esse eterno sorriso, e mais ainda, sem jamais deixar de ser leal. Não me lembro de a Rosa jamais ter me dito “não posso”, “não tenho tempo” ou mesmo “não posso aceitar esse valor”. A Rosa sempre esteve presente, companheira de toda aventura, pronta para qualquer desafio, incondicionalmente leal a todos e a tudo que importa nessa vida.
 

E nos momentos de desânimo, ou mesmo de desespero, quando tudo e todos estão remando para o lado errado, a Rosa nunca faltou, sempre presente com uma palavra de alento, de esperança, de otimismo. E para aqueles que sonham fazer uma paisagem mais bonita, que tem vontade de plantar nessa nossa terra tão pedregosa, aqueles que sofrem para fazer de nossas cidades algo melhor, esses sabem como é importante um alento, uma voz de apoio. Alguém como a Rosa sempre faz falta. Quantos arquitetos-paisagistas-urbanistas, como todos se dizem hoje, tem esse histórico? Poucos, muito poucos, se algum. E tudo isso que é tão raro, é pleno na Rosa.
 

Não vou dizer a idade da Rosa por que as mulheres não gostam de revelar tais segredos, mas esta Rosa, que ficou viúva cedo, é uma mulher que lutou toda sua vida antes mesmo de existirem feministas, lutou e nunca desistiu, nunca entregou os pontos. Luta até hoje. Só faz isso quem tem muito valor, algo que Rosa esbanja. Mais do que uma paisagista, mais do que uma urbanista, na falta de outra palavra, esta Rosa é uma humanista. Já falei como é difícil definir uma Rosa. Palavras são meras sombras perto da realidade ofuscante. Mas vou tentar.
 

Rosa é Coragem, é ética, é guerreira leal defendendo valores. Rosa é uma Dama de ferro feita de ternura, uma flor pequena que vira um gigante quando cresce para defender o verde, as arvore, a cidade, as ideias. Nada mais justo do que esta homenagem à Rosa. São Paulo precisa de rosas, São Paulo precisa do teu exemplo, por isso, Rosa, São Paulo te agradece, e na falta de outras palavras, de nomes, daqui para frente, você será chamada de Nossa Rosa Paulistana.
 

Obrigado.

São Paulo, 09 de junho de 2016

Cerimônia de entrega do título de Cidadã Paulistana à Rosa Kliass

 
 

Além desse texto, compõem a homenagem:
 

Rosa Kliass: uma aula magna no cerrado

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Entrevista exclusiva de Rosa Kliass para o portal Arquitetura para Todos

“Ao fazer uso dos espaços da cidade, o paulistano, avaliza a minha intervenção na paisagem de SP”, diz Rosa Kliass – Cerimônia de entrega do título de Cidadã Paulistana

“Em defesa do projeto, Rosa Kliass nunca se rendeu ao mercado”, relata Nina Vaisman sobre Rosa Kliass – Cerimônia de entrega do título de Cidadã Paulistana

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Publicado em 17/06/2016

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