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NOTA DE PESAR: Esterzilda Berenstein de Azevedo

 

É com imenso pesar que a Faculdade de Arquitetura, o Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) e o Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de Monumentos e Núcleos Históricos (MP-CECRE) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) comunicam o falecimento, na manhã de hoje, da Prof. Dra. Esterzilda Berenstein de Azevedo.

 

Graduada em arquitetura e urbanismo pela FAUFBA em 1971, Ester recebeu os títulos de especialista em Restauração e Ambientação de Monumentos pelo Instituto de Cultura Hispânica de Madri e pela Organização dos Estados Americanos (OEA) em 1974, mestra em Ciências Sociais pela UFBA em 1985 e doutora em Estruturas Ambientais Urbanas pela Universidade de São Paulo (USP) em 1995, além de ter realizado estágio pós-doutoral na Università di Roma “La Sapienza” entre 2005 e 2006.

 

Ester foi professora da Faculdade de Arquitetura da UFBA por quase 40 anos, contribuindo de maneira decisiva nos cursos de graduação em arquitetura e urbanismo, no CECRE (Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Monumentos e Núcleos Históricos, transformado em Mestrado Profissional a partir de 2010), no Mestrado Acadêmico e no Doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Na graduação, Ester trouxe a discussão sobre a intervenção em edificações e sítios históricos para o Ateliê de Projeto. Na pós-graduação, coordenou o Ateliê de Projetos do CECRE e, durante anos, ministrou a disciplina “Metodologia de Pesquisa” no PPGAU. Ester foi também coordenadora do PPGAU (2000-2001), chefe do Departamento de Teoria e Prática do Planejamento da FAUFBA (1986-1988) e consultora ad-hoc da CAPES e do CNPq em diversas ocasiões.

 

Ester teve um papel determinante na internacionalização da FAUFBA, coordenando projetos de cooperação acadêmica entre a UFBA e diversas universidades estrangeiras, especialmente italianas, além de ter sido professora visitante em diversas oportunidades em universidades estrangeiras, como a Università di Roma “La Sapienza”, as Università degli Studi di Pavia e Cagliari (Itália) e a Universidad Central de Chile, em Santiago.

 

Entre 1999 e 2011, coordenou a participação da FAUFBA em 13 seminários internacionais de projeto, realizados anualmente em cidades como Santiago do Chile, Pavia e Cagliari (Itália) e Mindelo (Cabo Verde), tendo organizado e coordenado três edições destes seminários na FAUFBA, em Salvador (em 2001, 2005 e 2010). Estes seminários reuniram centenas de estudantes de graduação, mestrado e doutorado da FAUFBA, além de inúmeros docentes, que desenvolviam, em parceria com estudantes de outros países, propostas de intervenção urbana em sítios históricos pré-selecionados das cidades sede.

 

A partir da experiência do Seminário Internacional de Projeto promovido na FAUFBA em 2001, foi iniciado, através de convênio com a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), o projeto de extensão “Requalificação Urbana do Pilar” (RUP), visando à elaboração de um plano urbanístico e de projetos de habitação de interesse social na região do Pilar, na Cidade Baixa, em Salvador, dentro do sítio urbano tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e inscrito na lista do Patrimônio Mundial pela Unesco. Esterzilda dirigiu o RUP da sua criação, em 2003, até o fim das suas atividades, coordenando a elaboração dos diversos planos e projetos de adaptação de imóveis históricos em habitação de interesse social e de novas edificações em terrenos vazios nas ruas do Pilar, Julião e Caminho Novo do Taboão, dentre os quais o do Pró-Moradia 1, inaugurado em 2012.

 

Com ampla atuação internacional no campo da preservação do patrimônio cultural, foi também consultora do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), sendo responsável pela avaliação da salitreira de Humberstone e Santa Laura, no Chile, que resultou na sua inscrição na lista do Patrimônio Mundial da Unesco; e colaborou com o Instituto Nacional de Cultura (INC) do Peru, participando da elaboração de projetos de restauração de diversos monumentos na cidade de Cusco. Na Bahia, atuou entre as décadas de 1970 e 1990 como arquiteta do Governo do Estado da Bahia, participando da elaboração de diversos projetos de restauração de bens tombados e do Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia (IPAC), do qual coordenou os dois volumes relativos ao Recôncavo Baiano, publicados em 1978 e 1982.

 

Dentre os prêmios recebidos, merecem destaque o 1o lugar no Prêmio Caixa- IAB de Ideias e Soluções para Habitação Social no Brasil, na categoria “reciclagem de prédios urbanos deteriorados e/ou obsoletos”; aqueles recebidos pelos Trabalhos Finais de Graduação premiados no Opera Prima, em 2009, e no Prêmio Syene, em 2010, sob sua orientação; o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do IPHAN, em 1998, pelo trabalho desenvolvido pela equipe do IPAC; e a menção honrosa obtida pela sua dissertação de mestrado no Prêmio de Teses e Dissertações da Fundação Joaquim Nabuco, em 1987.

 

A dissertação de mestrado de Ester, intitulada “Arquitetura do Açúcar”, foi publicada pela Editora Nobel, de São Paulo, em 1990 e rapidamente se transformou em uma das principais referências, no Brasil e na América Latina, sobre a arquitetura rural do ciclo da cana de açúcar. Como o livro se encontra esgotado há muitos anos, o companheiro e parceiro de toda a vida de Ester, Paulo Ormindo de Azevedo, igualmente professor aposentado da FAUFBA, vem organizando sua reedição, assim como a publicação da tese de Doutorado de Ester, “Açúcar amargo: a construção de engenhos na Bahia oitocentista”, que permanece inédita. Os dois livros estão em etapa final de revisão para publicação pela Editora da UFBA, o que permitirá às novas gerações de pesquisadores ter uma ideia da dimensão das contribuições de Esterzilda Berenstein de Azevedo para a história da arquitetura na Bahia e no Brasil.

 

Com seu comprometimento com a UFBA, evidenciado pela atuação tanto no ensino, quanto na pesquisa e extensão, nos diversos níveis, e sempre identificada por sua energia, inteligência, generosidade e caráter agregador, Ester deixou sua marca na formação de muitas gerações de egressos da FAUFBA.

 

A comunidade da FAUFBA manifesta sua solidariedade e carinho aos familiares e amigos enlutados por esta irreparável perda.

 

Salvador, 14 de novembro de 2020

 

Sergio Ekerman
Diretor da Faculdade de Arquitetura da UFBA

 

Nivaldo Vieira de Andrade Junior
Coordenador do PPGAU/UFBA

 

Juliana Cardoso Nery
Coordenadora do MP-CECRE/UFBA

2 respostas

  1. Profundo sentimento pelo falecimento da eterna Prof. Esterzilda Azevedo. Ainda em 2014, como aluno da FAUFBA, tive o privilégio e a felicidade de tê-la semanalmente, nos magníficos ensinamentos e belas orientações nas salas de Oficinas de Projeto. Devemos ao Prof. Nivaldo Andrade essa possibilidade. Foi ele que nos permitiu conhecer a Prof. Ester como era chamada, e através dela, os leais conceitos da arquitetura e suas relações com a vida, o espaço, o mundo.
    A Prof. Ester era incomparável. Sabia como ninguém, produzir enormemente alunos admiradores, como eu.
    Admiração sempre!
    Luís Coqueiro

  2. Lamento profundamente a perda de uma pessoal especial e profissional realizada nas áreas dedicadas ao patrimônio cultural brasileiro.

    Deixo minha solidariedade aos professores que integram o MP-CECRE, onde cursei o mestrado na turma 2012.2, e desta forma, tive contato com Esterzilda.

    Abraços, no aguardo das publicações da dissertação de mestrado e da tese de doutorado, em preparo atualmente, pelas notícias acima.

    Carmen Muraro

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