O CAU Brasil deve acolher as demandas dos arquitetos que estão com o trabalho precário e guiar suas ações com base na coletividade até o final da atual gestão, em 2023. A afirmação foi feita pela presidente Nadia Somekh em entrevista ao jornalista Raul Juste Lores, um dos mais importantes formadores de opinião sobre urbanismo no Brasil, durante o Podcast “São Paulo nas Alturas”.
“A gente quer resultado, dar uma característica mais social para o nosso conselho de arquitetura” disse a presidente, que se declarou animada com a oportunidade de construir uma gestão participativa. “Neste momento tão desalentador, a gente precisa achar ilhas de encantamento e eu tenho a esperança de trazer contemporaneidade para a usual burocracia dos conselhos”, afirmou.
Primeira mulher a presidir o CAU Brasil, Nadia Somekh afirmou que deseja deixar ainda outras marcas à frente da autarquia: a do enfrentamento ao déficit habitacional a partir da valorização do profissional arquiteto. “Nós temos 25 milhões de moradias insalubres no nosso país e 1/3 das cidades precárias. 40 milhões de moradias precisam ser construídas nos próximos anos. Esse quadro nos leva a procurar melhorar a vida da população” afirmou, lembrando o desafio de tornar efetiva a Lei de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (11.888/2008).
A estratégia do CAU Brasil para colocar os arquitetos na centralidade da solução passa por articular, em apoio com os CAU/UF, parceria com gestores públicos, governos de estado, municípios e movimentos sociais, apontou Nadia. Segundo a presidente, se 85% das edificações são feitas sem arquiteto e sem engenheiro – conforme apontou a pesquisa CAU/BR Datafolha – é por que a população brasileira desconhece a relevância da arquitetura. “Vamos fazer depois uma sensibilização dos gestores, e no congresso UIA 2021, que vai acontecer em julho, nós vamos apresentar esse nosso primeiro passo para conseguir primeiro sensibilizar a população”, informou.
Questionada sobre a contribuição dos arquitetos e urbanistas em organizações coletivas capazes de interagir com a agenda urbana brasileira, Nadia citou o exemplo do núcleo BR Cidades, fomentado pela arquiteta Erminia Maricato. Organizado em diversos municípios, este fórum amplo propõe ações convergentes para a construção de cidades mais justas e sustentáveis. “A melhoria das cidades depende não só do Governo Federal, dos governos estaduais e municipais, mas depende da população. Então, ela (Ermínia Maricato) teve esta sensibilidade e ajudou a criar essa rede para refletir sobre as transformações e as políticas públicas, as políticas urbanas”.
Na entrevista, a presidente voltou a apontar o aprimoramento do SICCAU como prioridade dos primeiros meses da gestão e falou sobre a necessidade de qualificar a formação em
arquitetura e urbanismo. Segundo Nadia, é preciso que os arquitetos entendam o contexto em que irão atuar. “A gente tem que formar arquitetos que atendam as necessidades do país, não só pensem em fazer arquitetura para a elite” disse a presidente.
A arquiteta também falou sobre a importância do patrimônio no contexto urbano. “O patrimônio é presente e futuro, é a base do futuro, é a nossa memória. Portanto, podemos fazer intervenções contemporâneas. Não basta só restaurar”, opinou.
Questionada sobre como os arquitetos podem contribuir com a visibilidade da profissão, Nadia Somekh conclamou os colegas a fortalecerem o fazer em arquitetura a partir do cotidiano. “Mobilizem- se e façam boas arquiteturas, de qualidade e se responsabilizem por aquilo que fazem”. E acrescentou: “Nós temos que fazer essa corrente, esse exército de 200 mil arquitetos tem que mostrar para a população brasileira o quanto nós somos necessário o quanto precisam do nosso ofício nesse país”, finalizou a presidente.
Sobre o podcast
O podcast São Paulo nas Alturas é produzido e apresentado pelo jornalista Raul Juste Lores, ex-correspondente da Folha de São Paulo em Washington, Nova York, Pequim e Buenos Aires. No podcast, Lores recebe convidados para tratar de temas ligados à arquitetura, urbanismo e qualidade de vida nas cidades. O jornalista também é autor do livro São Paulo nas Alturas e também de uma série homônima disponível no youtube. Assista aqui
A entrevista completa está no player abaixo.
