Um dos mais importantes nomes da arquitetura brasileira contemporânea, Roberto Loeb, foi premiado na China, pelo projeto da ponte móvel Friedrich Bayer, com traços que lembram uma vitória-régia, construída sobre o rio Pinheiros, em São Paulo. Ele foi o vencedor 2020/2021 do IAI Design AWard, organizado pela Asia Pacific Designers Federation, considerado o mais importante da Ásia.
“A coisa começa com a imaginação, o Einstein costumava dizer que a imaginação é mais importante que o conhecimento. Eu pensei o que flutua e que tem uma expressão interessante, eu pensei então na Vitória-Régia”, afirmou o arquiteto em depoimento para o site Galeria da Arquitetura. “Aí o primeiro desenho e croqui que a gente fez foi um croqui com umas fotos que eu consegui da Vitória-Régia, que são essas plantas flutuantes de grandes dimensões. A primeira ideia que eu tive, considerando os carros que passavam em cima, é alguma coisa que aflorasse ligeiramente sobre a superfície, e da Vitória-Régia para a solução foi quase um passo porque eu pensei em grandes círculos”.
Idealizada no ano de 2013, a ponte é uma obra pedonal e cicloviária móvel que atravessa o Rio Pinheiros, na confluência com o canal Guarapiranga. Ela liga o bairro do Socorro à estação Santo Amaro da CPTM e do Metrô, em São Paulo. “A obra beneficia mais de 15 mil pessoas diariamente e ajuda a reduzir a emissão de CO2 na atmosfera paulistana em 300 toneladas por ano”, lembra Loeb em declaração para o jornal O Estado de S.Paulo.
A construção da estrutura é fruto da parceria entre a Bayer Brasil, a Secretaria de Energia e a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE). A obra foi concebida pelo gabinete de arquitetura LoebCapote Arquitetura e Urbanismo (também liderado pelo arquiteto e urbanista Luis Capote) e pelos engenheiros de estruturas do Grupo Dois.
O prêmio será entregue amanhã. O IAI Design AWard tem a finalidade de identificar os avanços e desafios enfrentados na produção da arquitetura e urbanismo contemporâneos nacionais, de modo a reconhecer as propostas engenhosas e significativas, sobretudo aquelas que contribuam, efetivamente, para o desenvolvimento da técnica, do conhecimento e do ambiente construído.
O júri do prêmio foi constituído por renomados profissionais da arquitetura e construção, como: Tonghe Xing (China), Adam Chen (Taiwan, China), Zhong Wang (China), Fernando Brandao (Brazil), Oskar Ho (China), Giancarlo Mazzanti Sierra (Colombia), Khaled Bouharrour (Germany), Andrea Destefanis (Italy) & Filippo Gabbiani (Italy), e muitos outros.
UM TRABALHO A QUATRO MÃOS DA ENGENHARIA COM A ARQUITETURA
Eis a íntegra do depoimento de Roberto Loeb para a Galeria de Arquitetura:
A coisa começa com a imaginação, o Einstein costumava dizer que a imaginação é mais importante que o conhecimento. Eu pensei o que flutua e que tem uma expressão interessante, eu pensei então na Vitória-Régia. Aí o primeiro desenho e croqui que a gente fez foi um croqui com umas fotos que eu consegui da Vitória-Régia, que são essas plantas flutuantes de grandes dimensões. A primeira ideia que eu tive, considerando os carros que passavam em cima, é alguma coisa que aflorasse ligeiramente sobre a superfície, e da Vitória-Régia para a solução foi quase um passo porque eu pensei em grandes círculos.
Aí a primeira ideia foi fazer ela em concreto, eram três cálices de concreto e acabou ficando pesado e a gente não conseguiu o benefício que o cliente estava buscando em relação à proposta inicial da Prefeitura. Então junto com o pessoal do grupo dois a gente foi discutindo soluções para fazer o necessário para manter a forma, então a forma do cálice foi substituída por uma estrutura metálica que você consegue ver o cálice da mesma maneira e aí a gente conseguiu uma solução muito leve e um efeito bem interessante.
Ao avaliar as várias soluções a gente partiu de três apoios, que no primeiro desenho eram três ilhas que se articulavam, mas que parecia muito complicado, e a gente chegou nas duas ilhas, onde o projeto é constituído por duas partes fixas em estrutura metálica e duas partes móveis que se abrem no centro. Fomos desenvolvendo a ideia que tem um jardim suspenso, entrou o Ricardo Cardim e fez uma pesquisa de espécies existentes na região e partimos então para essa estrutura que é constituída por dois grandes pilones de quase um metro e meio de diâmetro e que foram plantados como se fossem insertes nesse terreno. E aí começamos a trabalhar nessa forma, que é a forma radial com elementos em balanço e telas para suportar o jardim. A solução foi tão interessante que ela pôde ser fabricada em uma usina especializada em estrutura metálica, pré montada e trazida ao local quase pronta, então a gente fez ela içada e montada com bastante precisão, ela funcionou muito bem e para espanto da Bayer e nosso, uma estrutura que estava orçada em uma ponte convencional em 15 milhões, foi construída com apenas 5.
Um projeto que hoje tem bastante visibilidade, foi muito premiado, venceu o prêmio da ASBEA em 2015, o prêmio da PCA, acho que o papel do grupo dois, do Renato, particularmente como a gente fala sempre, foi fundamental pra gente poder ter um projeto elegante, racional, sem desperdício de materiais e no final o cliente ficar satisfeito com o resultado que ele não sabe se ele vai ter ou não, mas quando começa todo mundo fala “Ah, que legal”, ele começa a ver o que ele comprou.
A natureza não desenvolve uma ideia para depois alguém projetar se é possível ou não, ela nasce organicamente integrada. Então poder trabalhar junto com o Renato e com o pessoal das fundações na solução da estrutura ela foi replicando quase que um processo natural de criação. Então a gente com essa ponte bi apoiada, nós pudemos desenvolver um sistema em que você tem duas pontes e nas cabeceiras tem dois trechos bi apoiados onde o perfil da ilha replica os maiores esforços na área central e ficando mais esbelto na ponta da vigas, e depois a compensação desse esforço em cima do círculo de apoio através do balanço dos dois pontos que giram sobre o círculo de apoio de forma que houve um equilíbrio estrutural muito interessante entre as duas partes que constituem a ponte.
E esse trabalho a quatro mãos da engenharia com a arquitetura transformou num projeto interessante e viável. O trabalho da engenharia nesses cálculos bem justos, vamos dizer assim, eles são fundamentais pro arquiteto.
COLECIONADOR DE PRÊMIOS
Roberto Loeb nasceu em 1941 em São Paulo. Em 1965, formou-se pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie, sendo mais tarde foi professor de projetos.
Seu trabalho abrange residências, indústrias, empreendimentos comerciais e institucionais, centros culturais, obras públicas e intervenções urbanísticas.
Classificou-se em 1º lugar, para o projeto da Nova Fábrica da Natura. Criou também o Edifício Sede H.Stern, Edifício Sede da Igreja Messiânica Mundial do Brasil, a sede do Unibanco e a sede da Basf Brasileira S/A, todos em São Paulo. Os dois últimos em associações com outros arquitetos.
Entre suas conquistas destaca-se também a fundação das empresas LoebCapote Arquitetura e Urbanismo e Ybyraa gerenciamento de projetos e obras, com a participação dos arquitetos Damiano Leite e Chantal Longo com o arquiteto Luis Capote em 2012