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“Precisamos implodir esse conceito de desenvolvimento sustentável”

Parece uma frase desconexa do contexto de um debate sobre conflitos e desastres ambientais. Mas a ideia é exatamente essa. Pelo menos de acordo com a arquiteta, ativista e professora Cláudia Pires e com o advogado e integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens, Leandro Scalabrin. Durante a Sessão Temática “Conflitos e Desastres Ambientais”, realizada na tarde de sexta-feira, 11/10, no Centro Cultural Erico Verissimo, casos como o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho foram lembrados para exemplificar a lógica de máxima exploração dos recursos ambientais, em detrimento da preservação dos direitos humanos, adotada no Brasil desde antes dos tempos da ditadura militar.

 

Foto: Cíntia Rodrigues/CBA

 

A mesa foi composta Cláudio Acioly, Cid Blanco, Alexandre Fernandes e Edson Catoni. A mediação do debate foi realizada por Cláudia Fávaro.

 

Com altos custos humanos e ambientais, o modelo energético brasileiro também segue essa lógica, de acordo com Scalabrin. Construções de grandes barragens, com o exemplo máximo de Belo Monte, representam danos irreparáveis para a dinâmica dos rios, para a fauna e a flora das regiões atingidas e para as comunidades que precisam se deslocar. Tudo em nome da geração de uma energia que não chega com valor acessível às pessoas. De acordo com dados apresentados por ele, os consumidores residenciais pagam o valor mais alto pela eletricidade, enquanto os grandes conglomerados industriais recebem a energia subsidiada. O mesmo acontece com a mineração, que provoca impactos enormes sem deixar o produto da extração da riqueza nas comunidades atingidas.

 

– Tanto a água como o minério são riquezas que pertencem a todo o povo brasileiro, mas a verdade é que elas são entregues aos grupos econômicos, são exploradas pelo capital privado, deixando para a sociedade e para o meio ambiente somente os danos – disparou.

 

Baseado no consumo máximo e na maior produtividade possível, com a exploração dos ambientes e das populações, o modelo de desenvolvimento é o problema a ser debatido, refletido e transformado.

 

– Precisamos implodir esse conceito de desenvolvimento sustentável. Simplesmente por que a lógica não funciona, não podemos sustentar um modelo econômico baseado em consumo desenfreado. Essa é a lógica capitalista, que transforma tudo em mercadoria, que precisamos combater. Ao implodir, precisamos construir outro modelo: a lógica da abordagem crítica ao desenvolvimento sustentável e sua agenda. Estamos implantando o Observatório para denunciar que o conceito de desenvolvimento sustentável tem que ser acompanhado pelo conceito de equidade, inclusão e que o país tem um compromisso de colocar um olhar sobre isso. – alertou Cláudia.

 

O caso de Altamira, no Pará, também foi lembrado como um dos mais emblemáticos na conturbada relação entre obras para geração de energia e a garantia dos direitos humanos. Considerada a cidade mais violenta do país, Altamira recebeu, em menos de cinco anos, mais de 40 mil migrantes, desestabilizando a dinâmica social e ambiental da cidade. O resultado caótico se revela na crise de moradia, na marginalização das pessoas mais pobres e no crescimento das moradias irregulares, erguidas em áreas completamente impróprias, como mangues e reservas de proteção ambiental.

 

Fragilizadas, as populações mais vulneráveis, como indígenas e negros, sofrem as consequências do modelo econômico baseado no desenvolvimento e alicerçado no consumo desenfreado. Por outro lado, as elites detentoras do capital concentram ainda mais poder e riqueza a partir da especulação imobiliária e da exploração dos recursos naturais a custos baixos de compensação.

 

Para os painelistas, um dos papéis dos arquitetos é justamente pensar as cidades a partir de uma proposta menos desenvolvimentista e mais humana, criando soluções que garantam a dignidade das pessoas e a conservação do ambiente. O primeiro passo, no entanto, é subverter a lógica do consumo e da exploração máxima dos recursos naturais, para preservar não apenas os ambientes naturais, mas as comunidades que têm direito à existência.

 

Saiba mais sobre a presença do CAU/BR no o 21o. Congresso Brasileiro de Arquitetos

 

Fonte: CBA

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