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Semana do Urbanismo reflete sobre discriminação de gênero e raça nas cidades

A arquitetura e urbanismo como resposta política e tecnológica para viabilizar o amplo acolhimento no espaço urbano foi a tônica da terceira mesa da Semana do Urbanismo 2021 – Cidades Resilientes, nesta terça, 23 de novembro. No mês do urbanismo e da consciência negra, o debate “Diálogo 3 – Cidades Inclusivas” provocou a reflexão sobre experiências de combate às formas de discriminação e exclusão da população negra nas cidades, convidando o público a ampliar o olhar para as questões de gênero, deficiência, idade, etnia, crença, orientação sexual, parentalidade e dificuldades de locomoção. Para isso, recebeu dois pesquisadores: a Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e da Pós-Graduação em Tecnologia para o Desenvolvimento Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Diana Helene Ramos; e o Professor de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, Fabio Velame.

 

Mesmo sendo territórios coletivos, as cidades brasileiras são desenhadas a partir de processos de formação marcados pela herança colonial. A concentração de terras e a privatização do espaço público são algumas marcas históricas desta característica. “Não houve ruptura com o passado escravocrata no Brasil nas estruturas do estado, nas relações sociais, e consequentemente isso se reporta ao espaço urbano. Todas as mazelas que nós vemos como isoladas, como o racismo, a violência contra a mulher, o feminicídio, o trabalho e a prostituição infantil, advém deste passado colonial, onde o corpo das mulheres e homens negros e indígenas eram mutilados, subalternizados e descartados”, afirmou o professor Fábio Velame.

 

 

A exclusão é reforçada pelo discurso do planejamento e construção de espaços de neutralidade para um sujeito genérico e imparcial, que restringe o direito à cidade para públicos diversos. Como forma de resistência, resta aos grupos sociais alijados do desenho urbano buscar formas de visibilidade e resistência, segundo a professora Diana Helene Ramos. Para a professora, que  atua junto a diferentes movimentos sociais de mulheres, moradia e trabalho e é pós-doutora em Estudos Interseccionais de Gênero pela Universidade do Quebec e pelo IPPUR/UFRJ, manifestações como a Parada Gay e a Marcha das Vadias são exemplos de reivindicação do espaço. A partir destas iniciativas, mulheres e o público LGBTQIA+ solicitam o direito de circular, ocupar, vivenciar, ter segurança e visibilidade na cidade.

 

Além de requerer o seu direito ao espaço, os públicos que não se identificam com o padrão do cidadão para quem as cidades são desenhadas, em sua maioria, também experimentam novas formas de organizar as cidades. Como exemplo, a professora citou as casas de acolhimento e territórios de ocupação onde as mulheres, população negra e LGBTQIA+ são protagonistas. “A partir da própria forma de ocupação, se experimenta outras maneiras de organização, como o direito mais coletivizado, onde a questão do cuidado é importante,a diversidade é aceita e se acolhe pessoas”, disse Diane Helene.

 

 

Na opinião da professora, as experiências de gestão coletiva que pensam o espaço de formas diversas inspiram as mudanças necessárias para as cidades e são impulsionadoras de políticas públicas. “Os movimentos sociais são os motores das mudanças e transformações. Os governos podem ser mais ou menos suscetíveis a levar em conta as reivindicações, mas as conquistas do público LGBTQIA+, das mulheres e das pessoas não-brancas vieram da luta dos movimentos sociais”, afirmou.

 

Os convidados também foram questionados sobre as oportunidades de intervenção no desenho urbano para a estruturação de cidades mais inclusivas. Ambos concordam que este desafio requer mudanças estruturais na sociedade. “Ninguém nasce odiando mulheres, negros, indígenas. Eles aprendem nas nas estruturas sociais. Então, um elemento central de transformação é a educação”, apontou Fábio Velame. Para o professor, arquitetos e urbanistas, assim como todos os profissionais, têm sua contribuição social a partir do seu campo disciplinar, mas precisam projetar seu fazer técnico a partir do olhar cidadão. “Mais do que formar arquitetos para poder trabalhar e desenvolver projetos em territórios e comunidades quilombolas e de matriz africana, projetos de habitação e planejamento urbano, é preciso formar cidadãos. Como arquiteto, é possível projetar a transformação através do projeto e dos processos de diálogo com as comunidades, percebendo a cosmovisão dessas sociedades, seus valores, éticas e estéticas”, explicou.

 

Apesar disso, a arquitetura e urbanismo é capaz de propor soluções pontuais para ampliar o acesso, a circulação e a permanência de todos os usuários no espaço público. Mencionado estudos desenvolvidos pelo Coletivo de Urbanismo Feminista de que faz parte, a professora Diana Helene Ramos apontou sugestões, como a instalação de banheiros públicos e de bancos nos espaços urbanos; soluções baratas e simples que oferecem maior conforto tanto para pessoas idosas quanto para mulheres e crianças, que são a maioria entre os não usuários de automóveis e também da população brasileira.

 

O debate ocorreu logo após a mesa Diálogos 2 – Cidades Sustentáveis em Rede.

 

Assista na íntegra

 

A Semana do Urbanismo 2021 – Cidades Resilientes é promovida em conjunto pelas Comissões de Política Urbana e Ambiental (CPUA) e de Política Profissional (CPP) do CAU Brasil. Nesta quarta, 24, acontecem os debates finais da Semana do Urbanismo – Cidade Resiliente. O Diálogo 4 debaterá o tema “Planos diretores participativos e planos de ação”. As participantes são a Conselheira Suplente do CAU Brasi,  Ana Claudia Duarte Cardoso, e a Diretora de Planejamento Institucional e Gestão Estratégica da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão de Porto Velho/RO, Raísa Thomas.

 

Para a última mesa, Diálogo 5 – Simplificação do Licenciamento Edilício e Urbanístico, os convidados são o Conselheiro Suplente do CAU/DF, João Dantas e o mestre em Planejamento Urbano, Daniel Montandon. A mediação será feita pelo conselheiro  Federal do CAU Brasil, Nilton de Lima Junior

 

Acesse o link da transmissão e tive a notificação

 

Saiba mais:

O CAU Brasil procura ampliar o debate sobre a inclusão nas cidades a partir das Comissões Temporárias de Equidade de Gênero (CTEG) e de de Raça, Equidade e Diversidade (CTRED).

Acesse o Diagnóstico de Gênero do CAU/BR

 

 

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