CAU/BR

Seminário BIM na Prática: Como tecnologia é usada por arquitetos, escolas e governo

 

No segundo dia do Seminário BIM na Prática, os arquitetos e urbanistas presentes no evento ampliaram as discussões sobre a tecnologia para abordar a sua aplicabilidade em grandes e pequenos escritórios, em obras públicas e também nas faculdades. O evento, promovido pelo CAU/BR, CAU/DF, Câmara Brasileira de BIM (CBIM) e SEBRAE, aconteceu nos dias 29 e 30 de outubro em Brasília, com a presença de mais de 230 profissionais de todo o país, além daqueles que acompanharam a transmissão ao vivo.

 

Principal apresentação do dia foi do arquiteto português Décio Ferreira, BIM Coordinator na Foster+Partners (foto acima), um dos mais conceituados escritórios de arquitetura do mundo. “Somos diferentes dos outros escritórios, não queremos ser mais um, queremos estar sempre à frente. E para isso precisamos de ferramentas diferentes”, disse. “É na inovação que fazemos a diferença. Fazemos testes, desenvolvemos softwares próprios e criamos plug-ins quando necessário”.

 

Segundo ele, são mais de 300 softwares usados pelos mais de 1.400 profissionais espalhados pelas 12 sedes localizadas em vários países. “Não é fácil instalar o BIM em uma empresa como a nossa, por causa do tamanho e da nossa metodologia de trabalho. Vimos que tínhamos que mudar nossos processos, desde a assinatura do contrato até o treinamento dos funcionários”, afirmou.

 

Lusail Stadium, no Catar, projetado em BIM pelo escritório Foster+Partners

 

COORDENAÇÃO E INOVAÇÃO
Décio é um dos responsáveis por mobilizar as equipes do Foster+Partners para trabalhar com as novas tecnologias. “Existem padrões, métodos e procedimentos para cada processo. Vou em cada equipe e passo alguns meses ensinando a usar o BIM”, contou. A empresa chegou a desenvolver um manual próprio de BIM, e promove programas de mentoria para atualizar os conhecimentos de seus colaboradores.

 

Mostrando detalhes de projetos como o Lusail Stadium (Catar), o Shopping Whiteleys (Inglaterra), o Aeroporto de Marselha (França) e o masterplan da Vila de Oceanview (Chipre), Décio destacou que todos os processos realizados pelo escritório têm padrões, métodos e procedimentos. Existe um Plano de Execução BIM na empresa, um padrão que é adaptado caso a caso. “Em todo projeto se estuda se há requisitos BIM ou não, há uma classificação dependendo desses requisitos. Sempre negociamos com o cliente qual nível de BIM ele quer. No caso de estudos preliminares, não recomendamos o uso do BIM”, disse.

 

O arquiteto português Décio Ferreira, BIM Coordinator na Foster+Partners

 

BIM NO GOVERNO E EM PEQUENAS EMPRESAS
As políticas públicas de utilização no BIM para obras realizadas por órgãos governamentais foram apresentadas pela economista Adriana Pessoa, coordenadora de Economia Digital e Produtividade Industrial no Ministério da Economia. “Queremos mais flexibilidade e acurácia, com redução de custos e uma melhor análise da construtibilidade”, disse Adriana, que destacou o grande número de obras paradas no Brasil. “Quando se resolve um problema no canteiro de obras, você não tem a melhor solução, tem a solução possível naquele momento, porque a obra está em andamento. Se os projetos forem integrados de forma bem-feita, não tem esse risco.”

 

Neste ano o governo federal instituiu o Comitê Gestor da Estratégia do BIM, para promover o uso da tecnologia no Brasil. O objetivo é que até 2021 as obras consideradas de grande relevância tenham todos seus projetos feitos em BIM. Até 2024, o BIM deve ser adoado na execução dessas obras. Em 2028, pretende-se que todo o planejamento pós-obra seja feito por meiko do BIM. Com isso, espera-se conseguir uma economia de 9,27% nessas obras e um aumento de 28% no faturamento do setor de construção civil. “Estados e municípios estão também querendo fazer obras em BIM. Estão nos procurando numa velocidade maior que esperávamos”, disse.

 

Adriana Pessoa, coordenadora de Economia Digital e Produtividade Industrial no Ministério da Economia

 

Pelo lado da iniciativa privada, o SEBRAE-MG tem buscado divulgar e promover o BIM nas empresas de construção civil de Minas Gerais. Segundo Jefferson Santos, coordenador de projetos da Construção Civil do SEBRAE-MG, mais de 400.000 empresas serão afetadas pelo BIM nos próximos anos. “Algumas pessoas vão perder mercado. Quando os clientes pedirem projetos em BIM, vão descobrir não é um processo que se faz em dois meses”, alertou.

 

Ele destacou que, no Reino Unido, 56% das empresas que usam o BIM têm menos de 50 funcionários. Um total de 12% são escritórios com até dois arquitetos. Para Jefferson, é preciso que o setor privado promova mais alianças com instituições internacionais, busque criar linhas de crédito para os escritório adotarem o BIM e divulgar o assunto nas universidades. “Vem um tsunami por aí”, disse.

 

Professora Regina Ruschel, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

 

O ensino do BIM em universidades foi o assunto da palestra da professora Regina Ruschel, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo ela, a grande maioria das faculdades de Engenharia e Arquitetura já está adotando alguma prátrica de ensino relacionada ao BIM. “Pelo que vejo, a transição é mais difícil do CAD para o BIM do que do desenho manual para o CAD”, contou. Por isso, o ideal é ensinar o BIM para alunos mais avançados no curso, quando eles tiverem mais conhecimento das técnicas fundamentais da Arquitetura e da Engenharia.

 

“O melhor é começar a ensinar o BIM pelo aspecto da colaboração, com modelos prontos, não pela modelagem em si”, disse. Ela recomenda que os professores proponham projetos e dividam as equipes de acordo com habilidades diferentes. “Se um professor não tem expertise naquela disciplina de projeto, ele não consegue ensinar a modelagem daquilo. Então na disciplina de projeto não há como ensinar a modelagem, isso tem que ser dispersado, envolvendo todo o corpo docente”.

 

Mais de 200 arquitetos e urbanistas participaram do evento

 

ESTRATÉGIAS DE ADOÇÃO DO BIM
A arquiteta e urbanista Camila Kfouri, da Método Engenharia, explicou como a empresa trabalha com a tecnologia, que adotou há mais de dez anos e lhe rendeu por duas vezes o Prêmio de Excelência em BIM do Sinduscon-SP. A empresa já possui uma base de dados integrada, que apoia a compatibilização de projetos, coordenação de projetos e orçamento, execução de obra e até mesmo assistência técnica. “Muito se fala nas vantagens do BIM para fazer projetos, mas o BIM está envolvido em todo o ciclo de vida da construção, incluindo análise, documentação e execução de obra”, disse.

 

Outro recurso utilizado é a realidade virtual. Em locais estratégicos da obra, são posicionados adesivos com QR Code. Por meio do celular, os engenheiros, arquitetos e operários conseguiam ver o “produto finalizado”, para se guiar melhor na produção do edifício. “Não é preciso um aplicativo específico, a realidade virtual aparece no próprio navegador de internet”, contou. “Isso gerou uma comoção, muita curiosidade”.

 

Os arquitetos e urbanistas Alexander Justi, presidente da CBIM, e Camila Kfouri, da Método Engenharia

 

A engenheira Stefânia Corrêa, coordenadora de BIM na Andrade Gutierrez, explicou como foi o processo em uma das maiores construtoras do Brasil. Começou em 2010, com a construção da Arena Manaus, e depois foi formada uma equipe para disseminar as práticas usadas em todas as obras realizadas no Brasil e no exterior. “Temos hoje um núcleo de cinco profissionais dedicados à disseminação desses conhecimentos na empresa”, disse.

 

A Andrade Gutierrez geralmente recebe o projeto já bem definido pelos clientes, a maioria da documentação chega em 2D. “Fazemos a padronização e modelagem dos canteiros, além de orçamentação e execução de obras”, afirmou Stefânia. “O acompanhamento de obra em uma barragem na República Dominicana está sendo feito com drones, a gente compara as fotos semana a semana com o modelo”.

 

A arquiteta e urbanista Ana Lúcia Marujo, da incorporadora Idea! Zarvos

 

Outra experiência apresentada foi a da incorporadora Idea! Zarvos, de São Paulo. “Nossos projetos são diferentes, e a visualização 3D traz muitas facilidades”, contou a arquiteta e urbanista Ana Lúcia Marujo. “A mistura de usos, incentivada em São Paulo, faz a gente usar malhas estruturais diferentes. Todas essas interferências abrem muito espaço para o erro”. Ana destacou ainda as exigências da NBR 15575, a chamada Norma de Desempenho, que estabelece exigências de conforto e segurança em imóveis residenciais.

 

“Existem novas responsabilidades. Antes, quando um projetista fazia um projeto de hidráulica, ele não era responsável por quantificar quantas conexões, quantos metros de tubulação, etc. Hoje, trabalhando em BIM, ele é responsável por passar uma tabela quantificando todos os itens que estão nesses projetos”, disse Ana. Segundo ela, a adoção do BIM demanda não só uma revisão dos processos, mas da infraestrutura da empresa, desde a conexão de internet até a revisão dos cronogramas. “Com levantamentos 3D, conseguimos verificar quais pontos do edifício original estão de acordo com nosso projeto, quais precisam ser ajustados e quais itens da fachada precisam ser revisados e mandar isso para a fábrica”.

 

Mesa de encerramento do evento, com o conselheiro do CAU/BR Fernando Márcio de Oliveira; o presidente do CAU/DF, Daniel Mangabeira; o conselheiro do CAU/BR Emerson do Nascimento; o analista do Sebrae Ênio Queijada; e o presidente da CBIM, Alexander Justi.

 

Confira a íntegra do evento no vídeo abaixo!

 

 

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