Ensino e Formação

Seminário de Formação: Saiba como foram os debates das mesas de convidados no dia 28

 

No último dia do Seminário Nacional de Formação, Atribuições e Atuação Profissional do CAU, 28 de setembro, uma nova rodada de diálogos contou com a participação de convidados que atuam no universo da arquitetura e urbanismo. As mesas redondas procuraram ouvir profissionais e especialistas sobre o perfil dos arquitetos e urbanistas que o Brasil precisa, como sugere a questão que norteia o evento: O que se espera da formação de arquitetos e arquitetas e urbanistas no atual contexto brasileiro e mundial? 

 

 

DEBATES DA MESA 1

 

A primeira mesa foi coordenada pela conselheira Naia Alban e contou com relatoria da conselheira Karinne Santiago. Os convidados foram a presidente da Fundação Municipal de Patrimônio Histórico de São Luís, Katia Bogea; o engenheiro Lúcio Gregori  e o arquiteto Marcos Boldarini.

 

 

A qualificação de futuros arquitetos para atuar na área de patrimônio foi o foco da participação da presidente da Fundação Municipal de Patrimônio Histórico de São Luís, Katia Bogea. A capital maranhense possui cerca de 4 mil imóveis tombados, o que representa uma ampla demanda para os profissionais. A historiadora, que já esteve à frente do IPHAN, apresentou a experiência do projeto Canteiro Escola, que forma estudantes de arquitetura e urbanismo para atender à ampla demanda do conjunto arquitetônico maranhense. Um dos resultados foi a restauração do Mercado das Tulhas, o mais antigo da cidade, localizado Centro Histórico de São Luís.

 

 

O Engenheiro e ex-Secretário Municipal de Serviços e Obras e de Transportes de São Paulo, Lúcio Gregori, trouxe para a mesa reflexões sobre a atuação dos arquitetos e urbanistas na mobilidade urbana. “A mobilidade é parte essencial da questão urbana. Há pesquisas que apontam que 50% das pessoas de menor renda não visitam parentes e amigos porque não tem condições de pagar pelo transporte. Mais de 60% não frequentam serviços de saúde e serviços essenciais por essa mesma razão”, disse o engenheiro, enfatizando que  a exclusão atinge principalmente pessoas pobres, pretas e mulheres.  “A tarifa tem uma função social perversa, que é impedir a mobilidade destas pessoas”, afirmou Gregori, que trabalhou na elaboração de um projeto de Tarifa Zero e municipalização dos ônibus da capital paulista. Atualmente, o transporte público gratuito já é realidade em 43 cidades brasileiras de pequeno e médio porte, segundo o técnico. 

 

O engenheiro alertou para o impacto da ação dos arquitetos nas condições de mercado e para além dos limites das cidades. Também falou sobre a necessidade de que se antecipem na solução de problemas. “Sabemos que os combustíveis fósseis estão em processo terminal e serão substituídos. Os arquitetos e urbanistas precisam prever o que acontecerá com esta transformação”, disse. 

 

 

O último convidado a falar foi o arquiteto Marcos Boldarini que atua com projetos de ATHIS e de produção de espaço público no escritório Bordarini Arquitetos Associados. Resgatando a definição do português Alvaro Siza, ele classificou os arquitetos e urbanistas como mediadores e articuladores das mais diversas demandas para traduzi-las na escala da cidade. Também falou sobre a responsabilidade dos profissionais com o futuro diante das mudanças climáticas. “Nossa profissão se torna cada vez mais importante para administrar contextos de reparação de áreas degradadas e vulneráveis. Essa capacidade de perceber, ouvir e devolver à sociedade é muito importante de recuperar”, disse o arquiteto, lembrando a importância de eleger legisladores sensíveis às causas das cidades. “A boa arquitetura e o bom urbanismo não acontecem sem que tenhamos bons pares nas casas legislativas formulando bons decretos e leis”, disse.

 

 

DEBATES DA MESA 2

 

 

A segunda mesa contou com a participação do Geógrafo do Instituto de Pesquisa em Economia Aplicada (Ipea), Renato Balbin; da Arquiteta e Urbanista Bruna Sato e do Advogado da União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, Benedito Barbosa. A conselheira Daniela Kipper coordenou as discussões e o conselheiro Ricardo Mascarello fez a relatoria da mesa.

 

Renato Balbin lembrou os trabalhos desenvolvidos pelo CAU em parceria com o IPEA em relação à ATHIS. “O arquiteto deve fazer uma arquitetura para o Brasil. Todas as pesquisas revelam de nossas cidades problemas sociais graves. Devemos pensar na formação do arquiteto, no nosso país entrando no século XXI e no futuro de nossas cidades. Pensar em um país desigual, em que acesso a urbanidade e arquitetura é um privilégio. Temos que olhar esse país e quais são os compromissos que essas profissões, como a do arquiteto, têm prioritariamente é um projeto real.

 

O Geógrafo do Instituto de Pesquisa em Economia Aplicada (Ipea), Renato Balbin, em participação remota

 

Segundo ele, o exercício profissional da arquitetura no Brasil requer valorização e comprometimento ético para combater as precariedades que a grande maioria da população vivencia. “Temos que fazer um esforço muito grande para a formação, um novo componente ético deve ser colocado. É preciso uma profunda reformulação na formação do arquiteto para que a ATHIS seja valorizada pelos estudantes e pelos profissionais que estão entrando no mercado de trabalho”, afirmou.

 

A arquiteta e urbanista Bruna Sato falou sobre sua experiência como estudante, profissional e co-fundadora do coletivo Metrópole 1:1. Bruna alertou sobre a falta de valorização do processo da produção dos projetos. “O processo é tão importante como o projeto final. Se a gente pula alguma etapa, não teremos um resultado exitoso. Colocar o arquiteto sem errar, sem conversar com as pessoas, sem testar não funciona. É um processo de construção de exercício em si”, disse. Também defendeu a  valorização da arquitetura e o urbanismo na escala 1:1. “A escala que trabalhamos em universidades é muita desumanizada. Fazemos sem saber quem são aquelas pessoas, quais são aquelas populações, e do que elas precisam. A visão de proximidade de um para um deu origem ao nome da empresa. É uma visão que só tive depois de formada, que é da proximidade”, explicou.

 

Defensor de Direitos Humanos e Advogado da União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, Benedito Barbosa, mencionou seu trabalho de luta na cidade paulista. Ele mencionou a importância de pensar na cidade que se quer construir classificou a falta de moradia adequada como algo “evidente e estrutural”. “Uma cidade mais justa inclui, transforma e é mais solidária. Os impactos da pandemia estão evidentes e temos que trazer para o debate novas ideias para que possamos pensar como vamos continuar enfrentando esse momento”, disse. O advogado falou sobre a campanha nacional Despejo Zero, que conta com articulação de mais de 175 organizações, entidades, movimentos sociais e coletivos para atuar contra os despejos e remoções forçadas de famílias do seu local de moradia. 

 

DEBATES DA MESA 3

 

A terceira mesa foi coordenada pela conselheira Grete Pflueger com relatório da conselheira Claudia Sales. Os convidados foram as coordenadoras dos cursos de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Paulista, Ana Elena Salvi, e do Centro Universitário UNDB, Raíssa Muniz Pinto; e os arquitetos Ricardo Pereira Leite e Deborah Martins de Oliveira Lins.

 

Os participantes manifestaram preocupação, entre outras questões, com a falta de supervisão dos estágios em Arquitetura e Urbanismo, a indefinição sobre a extensão universitária, a desvalorização do exercício profissional, e debateram o papel do CAU para enfrentar estes desafios.

 

Ana Elena Salvi, Coordenadora do curso da Universidade Paulista (Unip), cobrou que o CAU defina uma supervisão para o estágio profissional, exigindo que o trabalho do estudante seja monitorado por um arquiteto ou engenheiro.

 

Raíssa Muniz Pinto, do Centro Universitário UNDB, alertou para a desvalorização do conhecimento científico-técnico no momento atual, e pediu um papel atuante do CAU para o exercício correto das experiências de ensino, pesquisa e extensão.

 

Ricardo Pereira Leite, e Deborah Martins de Oliveira Lins, representando escritórios de Arquitetura e Urbanismo, apontaram caminhos para combater a desvalorização do exercício profissional. Embora elogie a formação “generalista” do arquiteto e urbanista, Ricardo Leite indicou a necessidade do futuro profissional complementar esta formação para se colocar no mercado de trabalho, “porque a prática vai exigir isso dele”.

 

Deborah Lins ressaltou que as instituições de ensino precisam capacitar o aluno para explorar outros nichos de mercado, citando como exemplo as áreas de perícia e mesmo de Arquitetura de Interiores, o campo de trabalho de vários futuros formandos, mas assunto de poucas disciplinas nos cursos de graduação.

 

O arquiteto Jorge Guilherme Francisconi, que é PhD em Ciências Sociais pela Maxwell School of Public Administration and Citizenship da Syracuse University (1972), com ênfase em Economia Urbana, Planejamento Regional e Regiões Metropolitanas, questionou a formação profissional oferecida pelas mais de 400 instituições de ensino espalhadas pelo país. “Minha preocupação é que a Universidade virou um observatório. [Mas] A alma da nossa profissão é o ateliê”.

 

VEJA TAMBÉM COMO FORAM OS DEBATES DAS MESAS DE CONVIDADOS DO DIA 28

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