ARQUITETOS EM DESTAQUE

Seminário de Política Urbana: Arquitetos e os desafios das nossas cidades

 

Arquitetos e urbanistas fizeram um chamado à ação nas cidades brasileiras. No primeiro dia do “Seminário Nacional de Política Urbana: Por cidades humanas, justas e sustentáveis”, Paulo Mendes da Rocha, Ermínia Maricato e Bete França concordaram que o Brasil possui diversas leis que podem ser usadas para o desenvolvimento sustentável e planejado das áreas urbanas – mas o momento é de implementar a Arquitetura e o Urbanismo na política urbana. E a mobilização política dos arquitetos e urbanistas é essencial para transformar a qualidade de vida da população.  O evento é uma iniciativa do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR),  da Direção Nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e do CAU/SP.

 

“Devemos tomar o Ministério das Cidades. Sermos nós a indicar ao presidente quem será o ministro das Cidades”, disse Paulo Mendes da Rocha, um ícone da Arquitetura mundial consagrado pelo seu estilo brutalista. Ganhador dos principais prêmios mundiais de Arquitetura – como o Prizker, a Golden Medal do Instituto Real Britânico de Arquitetos e o Leão de Ouro da Bienal de Veneza – ele destaca que a criação do Ministério das Cidades deve ser louvada – e bem utilizada pelos arquitetos. “Não é tomar o poder, mas influir nessa estrutura enquanto ela for democrática. Um governo inteligente e justo pode ouvir a classe e os especialistas nesse assunto”.

 

Os arquitetos e urbanistas Ermínia Maricato e Paulo Mendes da Rocha

 

A professora Ermínia Maricato, que desenvolve uma extensa atividade política, concordou. “Nós arquitetos somos necessários, as cidades estão gritando pelo nosso trabalho”, disse ela, que é professora aposentada da USP, foi secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo (1989-1992) e secretária-executiva do Ministério das Cidades (2003-2005). “As cidades fazem a maior diferença na luta pela redemocratização do país. Mas hoje elas são invisíveis para o Judiciário, para os economistas e até para o executivo e legislativo municipal. Nossa tarefa é muito grande”.

 

 

“O CAU e o IAB têm que exigir uma elite de arquitetos fazendo a gestão das cidades. Isso é fundamental. Junto com um portfolio de práticas bem-sucedidas. Mostrar que nós somos capazes”, defendeu Bete França, também professora e autora do livro Arquitetura em Retrospectiva. “Temos que buscar as boas práticas. Como a CODHAB que convidou os colegas do IAB de Brasília para fazer a gestão pública urbana da cidade, arquitetos jovens, com trabalhos nos bairros”, afirma. Curitibana, Bete possui uma extenso currículo como gestora pública: foi diretora de Planejamento da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo e secretária de Habitação da Prefeitura de São Paulo.

 

PEQUENAS AÇÕES, GRANDES RESULTADOS
O arquiteto e urbanista Demetre Anastassakis, autor do Projeto de Habitação do Complexo da Maré que está exposto na Bienal de Veneza de 2018, provocou os colegas nessa mesma linha. “Não podemos ficar esperando, sabemos o que temos que fazer”, disse o ex-presidente do IAB. Bete França sugeriu ações imediatas e simples. “Quando os arquitetos assumem as suas tarefas, sem grandes planos, a coisa dá certo”.

 

Ermínia Maricato destacou que o Brasil já apresentou diversas soluções inovadoras para as cidades, e que os arquitetos e urbanistas devem valorizar essas conquistas. “Nós somos o paós do orçamento participativo, nos somos o país dos CIEPs, somos o país da Lei de Assistência Técnica em Habitação Social, somos o país dos Corredores de Ônibus – que virou BRT lá fora e voltou para o Brasil por meio de consultorias internacionais”.

 

“Quanto custa fazer uma coisa bem-feita?”, questionou Bete. “Gastamos R$ 240 bilhões no Minha Casa Minha Vida para fazer tudo longe. Com menos dinheiro podemos fazer pequenas intervenções”. Ermínia destacou que as cidades hoje são construídas sem estado e sem mercado. “O povo se vira, ocupa a terra e constroi. Quando o Demetre faz propostas da incorporação popular, temos que pensar que há frações do mercado que nós precisamos começar a trabalhar. Organizar cooperativas, pegar uma pequena poupança popular para trabalhar com assistência técnica. Tem espaço para a gente inovar.”

 

Uma proposta mais ousada veio de Paulo Mendes da Rocha: conectar os rios da América do Sul, criando uma extensa rede de navegação fluvial e uma série de cidades e portos ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. “Nenhum rio neste continente é só nacional, a maioria nasce aqui e passa para outro país. Navegar os rios, promoveria além de transporte, construção de novas cidades, parceria com outros países, a paz na América Latina”.

 

Wilson de Andrade (CAU/BR), Luiz Antônio Souza (IAB), Luciano Guimarães (CAU/BR) e José Roberto Geraldine Junior (CAU/SP)

 

AÇÕES DO CAU/BR
O presidente do CAU/BR, Luciano Gimarães, quer que os arquitetos e urbanistas ocupem mais espaços no poder público. “Precisamos resgatar o conjunto de princípios, diretrizes e objetivos construídos democraticamente, a partir da I Conferência Nacional das Cidades, em 2003. Exigimos o regate do próprio Conselho Nacional das Cidades, praticamente extinto em 2017 com a transferência de suas atribuições para o Ministério das Cidades” disse. A conselheira Nádia Somekh (SP), acredita que chamar a população é essencial. “Precisamos de planos globais e mobilizar a sociedade em pequenas intervenções”.

 

O CAU/BR vem fazendo seminários desde 2015, que estão consolidados em uma publicação (leia aqui), lembrou o conselheiro Wilson de Andrade, coordenador da Comissão de Política Urbana e Ambiental do CAU/BR (CPUA-CAU/BR). “Tudo o que foi levantado internamente, a CPUA está colocando na rua, com ações buscando a participação social nas questões sobre a cidade. Queremos garantir que os arquitetos tenham mercado de trabalho e a sociedade saiba receber esse trabalho com qualidade”, afirmou.

 

José Roberto Geraldine Junior, presidente do CAU/SP, destacou que os arquitetos e urbanistas podem e devem contribuir na pauta das Eleições 2018. “Estamos em um momento muito importante e significativo para o país. É ano eleitoral e pretendemos lançar um documento para nortear os novos dirigentes públicos com nossa pauta por cidades humanas, justas e sustentáveis”, observou o presidente.

 

Já Nabil Bonduki, coordenador da Comissão de Política Urbana, Ambiental e Territorial (CPUAT) do CAU/SP, contou que a Comissão tem feito debates internos sobre políticas urbanas e territoriais, com o objetivo de apresentar aos candidatos a governador. “O CAU tem papel de peso junto a todos os outros movimentos importantes para construir políticas urbanas. Temos que ter protagonismo junto a outros atores para a construção de políticas públicas sobre o tema”.

 

Luiz Antonio de Souza, secretário geral do IAB-DN, abriu a atividade falando da satisfação em estar ao lado de colegas que contribuíram para que o Seminário pudesse ser realizado. “Esse evento é um marco no sentido de mobilizar as instituições que representam os arquitetos e outras instituições que podem discutir sobre o tema”, afirmou.

 

Luciana Royer, Vice-Presidente do IAB-SP, ressaltou a satisfação para a instituição em receber um debate tão qualificado para discutir os espaços urbanos e para que todos pudessem construir juntos a Carta aos Candidatos às Eleições. “Os arquitetos e urbanistas não podem ficar silenciosos nesse momento tão importante para nosso país”.

 

Mais sobre o Seminário Nacional de Política Urbana:

Seminário de Política Urbana: Arquitetos e os desafios das nossas cidades

Seminário de Política Urbana: Como melhorar a qualidade de vida nas cidades

Seminário Nacional de Política Urbana debate metrópoles brasileiras

Seminário de Política Urbana: Participação política para unir cidades divididas

Seminário Nacional de Política Urbana: Arquitetura, Cidades e Meio Ambiente

 

Vídeos: Íntegra do Seminário Nacional de Política Urbana

Parte 01

Parte 02

Parte 03

Parte 04

Uma resposta

  1. Concordo plenamente. Nós, os arquitetos, temos a cidade como o nosso laboratório. Os arquitetos tem o olhar mais próximo da realidade da vida dos cidadãos. Temos, inclusive que participarmos do campo político.Aqui na minha cidade de Maranguape- Ceará, depois de ser Vereador quando elaboramos várias leis em defesa da cidade, conseguir ser prefeito. Minha posição de arquiteto e urbanista muito me ajudou em fazer uma gestão participativa, justa e democrática. Muitas ações inovadoras se concretizaram com a criatividade do nosso povo. É isso, caros colegas, temos que ser mais audaciosos é ocuparmos mais espaços de poder e não pecarmos pela omissão. Vamos em frente!

Os comentários estão desabilitados.

NOTÍCIAS EM DESTAQUE

CAU/BR

NOTA DE ESCLARECIMENTO

CIDADES

Conferência das Cidades: espaço para discutir a implementação da política urbana para todo o país

CAU/BR

CAU/BR aponta protagonismo feminino na arquitetura e urbanismo durante 98º ENIC

CAU/BR

Comissões do CAU/BR debatem temas de interesse dos arquitetos e urbanistas

Pular para o conteúdo