EVENTOS

Urbanismo de baixa densidade: as lições da Amazônia para as cidades brasileiras

A professora Ana Claudia Cardoso e a conselheira Josélia Alves

O processo de urbanização da Amazônia é um mistério e, para entendê-lo, é preciso compreender a história e levar em conta o território da floresta para do espaço urbano das cidades. A afirmação foi feita pela arquiteta e professora titular da UFPA, Ana Claudia Cardoso, na palestra palestra “Onde vivem as pessoas na Amazônia? Tríade: cidade, campo e floresta”, durante a abertura do Seminário Nacional de Meio Ambiente do CAU Brasil, no dia 8 de setembro, em Rio Branco, no Acre.

 

Ana Claudia Cardoso é natural de Belém do Pará, graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFPA. Mestre em Planejamento Urbano e Desenho Urbano pela UnB, é PHD em Arquitetura pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. Atuou na capacitação de movimentos sociais, na administração pública e na pesquisa multidisciplinar e atualmente é conselheira federal suplente do CAU Brasil pelo seu estado.

 

A professora falou sobre a invisibilidade da rede urbana e da população da Amazônia, território que tem ocupação humana documentada há cerca de dez mil anos. “Pouca gente entende o que acontece aqui. No subsolo, todo mundo tá de olho. Mas o que acontece debaixo das árvores, no chão, onde a gente vive, é um grande mistério”, afirmou a pesquisadora. 

 

Ana Claudia apresentou uma síntese de pesquisas desenvolvidas por especialistas que compuseram o Relatório de Avaliação do Painel Científico para a Amazônia (SPA)

 

A pesquisadora estuda tipologias espaciais, padrões de urbanização e a sociobiodiversidade da Amazônia e apresentou, durante a palestra, uma síntese de pesquisas desenvolvidas por especialistas que compuseram o Relatório de Avaliação do Painel Científico para a Amazônia (SPA). A iniciativa da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (SDSN-UN) envolveu mais de 200 cientistas e pesquisadores proeminentes dos oito Países amazônicos, Guiana Francesa e parceiros globais. 

 

Em busca de novas e originais narrativas sobre o território, o grupo se dedica a levantar dados que possibilitem compreender a complexa realidade amazônica, acolhendo saberes dos povos indígenas e outros atores que vivem e trabalham na Amazônia. As pesquisas vêm permitindo desmistificar interpretações equivocadas e historicamente difundidas sobre a ocupação amazônica. “A partir do século 20, se passou a acreditar que os indígenas eram bibelôs da floresta. Nada mais falso. As pesquisas com arqueologia, etnologia e eco paleontologia tem mostrado que aqui nós tínhamos soluções extremamente interessantes”, afirmou a pesquisadora, trazendo como exemplo de arranjo urbanístico de baixa densidade uma aldeia indígena local. “Isso nos mostra uma outra forma de pensar o urbanismo e é uma resposta que o século 21 pode encontrar para a situação de colapso da experiência desenvolvimentista que foi imposta à Amazônia”, disse.

 

Paisagem manejada de aldeia indígena amazônica com 50 mil habitantes, equipada com quintais, roças, diques de navegação, rotas terrestres de interligação 

 

A professora contextualizou como as relações peculiares de exploração, geografia e outros aspectos culturais diferenciam a Amazônia de outras regiões do país. Também apontou a desconexão entre as políticas públicas, como as habitacionais, com a realidade amazônica. “Quando um ribeirinho vem para um (projeto) Minha Casa Minha Vida no finalzinho da cidade, sem terreno para plantar, que é o que ele sabe fazer, chega como um desqualificado. Estas cidades não vem com uma dinâmica que traga empregos”, exemplificou. “Tudo está acontecendo na Amazônia quando o capitalismo mudou. Ele não gera mais empregos como era no século 20. Aqui, a cidade não vai crescer com a industrialização, como aconteceu com São Paulo”, completou. 

 

Ana Claudia propôs a reflexão sobre a colonização brasileira e, em recorte, como ela ocorreu na linha do tempo do território amazônico. A pesquisadora recordou a repressão da revolta da Cabanagem, que arregimentou  pessoas mestiças e indígenas, comerciantes e fazendeiros para lutar pela emancipação da província do Grão-Pará (atualmente Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia). Mais recentemente, sob o governo militar, segundo a pesquisadora, o território amazônico sofreu um processo de isolamento que favoreceu a exploração. “Essa nova edição da colonização foi baseada numa abstração que separa cada vez mais o espaço da vida das pessoas”, afirmou. Para a professora, é uma narrativa racista para justificar uma racionalidade sobre o território. “Se eu nego a cultura de alguém, eu sou racista, e isso está impregnado na nossa formação em Arquitetura e Urbanismo, nas nossas políticas públicas e na nossa maneira de ver o mundo”, disse a professora.

ACESSE A APRESENTAÇÃO DA PESQUISADORA NA ÍNTEGRA

 

ASSISTA À PALESTRA:

 

SOBRE O SEMINÁRIO

 

O Seminário Nacional de Meio Ambiente – Urbanização e mudanças climáticas: desafios para cidades resilientes na Amazônia é uma realização do CAU Brasil através da Comissão de Política Urbana e Ambiental. O evento aconteceu entre 8 e 10 de setembro no auditório do Sebrae em Rio Branco, no Acre, e faz parte da agenda de encontros regionais promovidos pela CPUA. Com o Seminário, o CAU pretende posicionar os arquitetos e urbanistas brasileiros diante de temas estratégicos para a preservação da Amazônia. O principal objetivo é a estruturação do Projeto Amazônia, uma proposta de ação a ser apresentada ao Congresso Internacional UIA 2023, em Copenhague/DK. Saiba mais no hotsite www.caubr.gov.br/seminariomeioambiente 

 

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2 respostas

  1. Muito importante! Ótima iniciativa! Não pude ir, mas estou acompanhando pelo site, na Cobertura, ansiosa pelo acesso às apresentações. Parabéns aos envolvidos!

  2. Olá bom dia..Muito oportuno este Incrível seminário.M despertar para urgentes intervenções na Amazônia com os incríveis desenhos dos Urabinsmos pre-colombianos e das Atuais Aldeias Indígenas Brasileiras. Preciso conversar com alguém sobre o assunto. Sou Arquiteto e Urbanista e Indigenista. Após 37 anos de trajetória agora me aposentando na Fundação Nacional do Índio e preciso trocar ideias e planos para apresentarmos ao mundo, pois: “Sem Aldeia em Pé, não há Floresta em Pé”. Renato Sanchez ([email protected]) 62/99618-2417

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