CAU NA MÍDIA

“Arquitetas Negras”: a busca pela equidade racial na Arquitetura

Para gerar visibilidade à produção de arquitetas negras brasileiras, a mineira Gabriela de Matos e a recifense Bárbara Oliveira idealizaram, em 2018, o projeto “Arquiteta Negras”. O  objetivo dessa iniciativa é mapear a produção dessas arquitetas e criar uma plataforma tanto para pesquisa quanto para contratação, para diminuir a desigualdade racial e de gênero na Arquitetura. A primeira ação para alcançar essa meta é a publicação da Revista Arquitetas Negras vol. 1, a primeira revista com conteúdo pensado e produzido por arquitetas negras brasileiras.

 

A temática da revista gira em torno da produção teórica, filosófica, e crítica desenvolvida no trabalho de design de interiores, da arquitetura e do urbanismo. O conteúdo foi construído de forma colaborativa, por meio de um Edital para chamada de projetos que ficou aberto do dia 21 de agosto ao dia 21 de setembro de 2018. Em entrevista ao A CASAA, site de arquitetura de Florianópolis, em fevereiro, Gabriela  conta que divulgou um formulário no Facebook para sondar a quantidade de interessadas no projeto antes da divulgação do Edital, e se surpreendeu com o engajamento.

 

Mapear e dar visibilidade à produção das arquitetas negras é o objetivo do projeto “Arquitetas Negras”. Foto: Arquitetas Negras

 

“No primeiro momento, lançamos um formulário de forma orgânica no Facebook e, para nossa surpresa, o mesmo foi compartilhado mais 900 vezes”, explica Gabriela. E o resultado foi ainda melhor: “Hoje temos pouco mais de 330 formulários, mas continuamos fazendo o mapeamento. Quando chegamos neste contingente de arquitetas negras cadastradas na nossa plataforma, pensamos: ‘Por que então estas arquitetas não estão nas mostras?’, ‘Por que não estão nas revistas?’ e ‘Por que elas são invisibilizadas?’”.

 

Capa da Revista Arquitetas Negras vol. 1. O lançamento está previsto para o começo do segundo semestre de 2019. Foto: Arquitetas Negras

 

Com previsão de lançamento para o início do segundo semestre de 2019, a Revista Arquitetas Negras vol. 1 está sendo produzida por meio de financiamento coletivo após a aprovação do projeto no edital Negras Potências.

 

O Negras Potências é uma parceria entre o site de financiamento coletivo (crowdfunding) Benfeitoria, o Fundo Baobá e o Movimento Coletivo.  A iniciativa abre um edital para mulheres negras que queiram tocar projetos de empoderamento econômico, combate à violência ou fomento na educação e cultura. Os selecionados integram a plataforma Benfeitoria, abertos para receberem contribuições. A cada R$ 1 arrecadado, o Movimento Coletivo investe mais R$ 2, triplicando o potencial de investimento.

 

Após dois meses de financiamento, o projeto conseguiu arrecadar a meta total para a publicação, com 283 apoiadores. Toda a arrecadação será para custear a produção de conteúdo, diagramação da revista, impressão e distribuição do material. Além dos matérias selecionados por meio do Edital, a revista também contará com conteúdo  de arquitetas convidadas,  como Stephanie Ribeiro (SP), Tainá de Paula (RJ),  Joice Berth (SP), Patricia Silva (BA).

 

Da esquerda para direita: Bárbara Oliveira e Gabriela de Matos, idealizadoras do Arquitetas Negras; Joice Berth e Stephanie Ribeiro, arquitetas, no Casa Vogue Experience 2018. Foto: Casa Vogue.

 

No vídeo de divulgação do projeto, Gabriela de Matos  pontua que a falta de representatividade negra  na Arquitetura é percebida desde o início da formação das arquitetas. “Essa falta de representatividade começou a me incomodar já no início da graduação. Eu não tinha professores negros e sequer eram mencionadas influências da arquitetura africana ou da arquitetura negra em geral.”

 

“Eu notei que essa minha inquietação era constante. As outras arquitetas negras também se sentiam invisibilizadas na nossa profissão. Por isso que eu resolvi criar essa rede de arquitetas negras e a partir dela traçar ações que pudessem minimizar a discriminação racial e de gênero na arquitetura. “

 

Sobre a realidade destas profissionais (também comum às outras mulheres negras), Gabriela comenta: “A maioria delas teve grande dificuldade para ingressar na faculdade de arquitetura, o que é comum para a população negra no Brasil. Muitas só conseguiram através de políticas afirmativas, como as cotas. E quando ingressaram, tiveram dificuldade de permanência, às vezes, por ter que trabalhar para pagar o curso ou comprar materiais. Recebemos relatos de mulheres que tiveram que fazer uma faculdade antes para só depois ter como trabalhar e pagar a faculdade de arquitetura”.

 

Recentemente, o painel “Black Female Architects – An experience of representantion in Brazilian architecture and urbanism”, da idealizadora do projeto Gabriela de Matos, foi aceito na IV Cham International Conference, que acontecerá em Julho, em Lisboa, com o tema Inovation, Invention and Memory in Africa. Em 2018, Gabriela e Bárbara Oliveira foram convidadas para falar sobre o “Arquitetas Negras” no Casa Vogue Experience, evento de workshops e palestras da Casa Vogue.

 

Confira abaixo o vídeo de divulgação da Revista Arquitetas Negras vol. 1:

 

 

Acesse as redes sociais do “Arquitetas  Negras”:  Facebook e Instagram

 

Por Beatriz Castro, estagiária, sob a supervisão de Júlio Moreno. 

2 respostas

  1. eu como arquiteto recém formado, e negro, passei (e passo) pela mesma situação, para mim é de extrema importância que esse tipo de trabalho seja cada vez mais comum, e agradeço pelo Arquitetas Negras surgirem na minha graduação e tive a oportunidade de conhecer esse projeto em um evento do curso na faculdade onde me formei, me motivou e me incentivou a continuar! Mto obrigado!

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