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Priscila Wolff Sampaio: planejamento urbano, paisagismo, e arquitetura social

 A arquitetura como meio de transformação social, a possibilidade de pensar espaços e a educação urbanística são alguns dos pilares que aproximaram a arquiteta e urbanista Priscila Wolff Sampaio, de Mato Grosso, da profissão.

 

Para o conselheiro federal Wilson de Andrade, segundo vice-presidente do CAU/BR, ela representa bem as jovens arquitetas e urbanistas emergentes de seu Estado. Confira abaixo a entrevista que o CAU/BR realizou com a profissional.

 

Arquiteta e Urbanista Priscila Wolff Sampaio. Foto: Acervo pessoal.

 

Como começou o seu interesse pela arquitetura? O que te levou a escolher esse curso?

 

A possibilidade de tornar sonhos e ideias em algo material, real, despertou meu interesse pelo curso.

Depois de pesquisar mais sobre essa área profissional, vi que a Arquitetura é um campo de conhecimento multidisciplinar, e a oportunidade de estar em contato essa pluralidade e complexidade de pensamentos que forma o que é a arquitetura e urbanismo me fez me apaixonar pela profissão.

 

Qual a área de atuação da arquitetura com a qual você mais se identifica? Por quê?

 

Me identifico com área de planejamento urbano e paisagismo. Porque me encanta a possibilidade de pensar espaços que contribuam para a qualidade de vida urbana das pessoas, sou apaixonada por espaços públicos de lazer, meu olhar é sempre atento na forma como esses espaços são apropriados, configurados e como eles são percebidos na paisagem.

A arquitetura de interesse social também é a área que me atrai na profissão, tornar possível a democratização do acesso ao serviço de arquitetura é um dos meus objetivos profissionais.

 

 

Quais são as maiores dificuldades que você enxerga em ser mulher no âmbito da arquitetura e urbanismo?

 

A maioria dos profissionais da construção civil são homens, pedreiros, mestres de obras, engenheiros, etc., sinto que ainda há uma resistência a ouvir a palavra da mulher arquiteta ao explicar o projeto e dar orientações de execução. Já vi situações em que uma arquiteta mulher deu orientações ao pedreiro e essa foi descartada, enquanto a palavra do arquiteto homem para a mesma situação foi aceita.  Sinto que ainda há muita resistência de homens aceitarem ordens de serviços por parte de mulheres quando estas assumem uma posição superior a eles no trabalho, isso mostra o quanto a igualdade de gênero no trabalho ainda precisa avançar.

 

 

Qual foi o maior marco da sua carreira?

 

Fazer parte do desenvolvimento de um projeto de educação urbanística junta a uma comunidade de Cuiabá/MT.

Depois de me formar em março de 2018, me juntei a um grupo de arquitetos e engenheiros com interesse na possibilidade de iniciar um trabalho em assessoria técnica para habitação de interesse social em Cuiabá/MT que ainda é um campo inexplorado nessa área, assim formamos o grupo de assessoria técnica Modular. Nesse entremeio surgiu a possibilidade de participar de um edital do Programa Educar para Transformar do Instituto MRV, que destinava recursos para um projeto que envolvesse educação e sustentabilidade, vi junto com a equipe uma possibilidade de começar a desenvolver um trabalho que envolvesse educação urbanística e uma proposta de intervenção com a participação no processo e execução junto aos moradores da localidade Ubirajara, local escolhido para desenvolvimento do projeto. Passamos pelo processo de seleção e recebemos o apoio financeiro para colocar o projeto em ação. O projeto foi intitulado “Ubirajara TransformAção” e foi desenvolvido ao longo de 4 meses, foram realizadas oficinas teóricas e práticas para discutir cidade e desenvolver o diagnóstico da área em que trabalharíamos a intervenção. O projeto então foi direcionado para uma ação na praça do bairro e todo o processo de execução foi feito através de trabalho coletivo em mutirões. Além disso foram desenvolvidas atividades exclusivas com as crianças, identificando os espaços de brincar e oficina de audiovisual que serviu de base para o registro desse processo que foi realizado pelas próprias crianças. O objetivo do projeto não foi o projeto da praça em si, mas mobilização da comunidade, a necessidade de eles entenderem a importância e força do trabalho coletivo, e do engajamento em prol de melhorias e comprimento de direitos. Após a realização do projeto os moradores já estão se organizando para continuar a reforma do centro comunitário, isso foi uma grande conquista do projeto que pode ter tido seu prazo encerrado, mas vai continuar dando frutos através de outras ações.

 

Projeto “Ubirajara TransformAção”, ação de educação urbanística, sustentabilidade e mobilização da comunidade de Ubirajara, em Cuiabá. Foto: Acervo pessoal. 

 

Com o que você está trabalhando agora? Possui algum projeto, escritório?

 

Faço parte da Modular, grupo de assessoria técnica de arquitetura e engenharia em Cuiabá/MT. Nós acreditamos na participação como meio para transformação social a fim de promover o direito à moradia digna e a espaços públicos que, de fato, contribuam para o bem-estar coletivo. Partindo disso, uma das nossas linhas de atuação é a área da educação com foco na cidade, que engloba a discussão do espaço público com crianças, jovens e adultos e a proposição e execução de ações que contribuam para a qualificação desses espaços.

Por isso, atualmente estamos desenvolvendo um projeto para dar continuidade ao trabalho de educação urbanística com crianças.

Eu também trabalho como ilustradora, as habilidades desenvolvidas em desenho e representação gráfica durante a graduação de arquitetura me despertaram para essa atuação profissional que também tem sido importante para minha carreira.

 

 

Como a participação das mulheres pode contribuir para o mercado de Arquitetura e Urbanismo?

 

Estamos em período em que o mercado tem exigido muita criatividade, há espaço para o empreendedorismo, inovação, startups e outras formas de por em prática o serviço do arquiteto e urbanista que fogem dos modelos tradicionais. Acredito que esse contexto aliado ao perfil versátil das mulheres no marcado de trabalho vai gerar muitas possibilidades de sucesso.

 

Com as habilidades em desenho e em representação gráfica obtidas na faculdade, Priscila descobriu o gosto pela ilustração. A arquiteta divulga seu trabalho no instagram @priwolffs.ilustras. Foto: Priwollf.ilustras

 

Como você enxerga a situação da mulher arquiteta no mercado de trabalho hoje? Percebe alguma evolução ao que era antes? Qual é sua expectativa para o futuro das arquitetas no mercado?

 

Com certeza tivemos avanços para a valorização das mulheres na arquitetura quando comparado aos últimos 30, 50 anos. O número de mulheres que se formam no curso de arquitetura já é superior aos homens, isso mudou com o acesso das mulheres a educação superior e é decorrente de série de outras conquistas. Mas os problemas enfrentados pelas mulheres no marcado de trabalho, como salários inferiores aos homens, assédio, escolha entre maternidade e carreira, além da falta de reconhecimento profissional, também atingem as arquitetas e urbanistas, e nesses quesitos ainda estamos caminhando para superar essas diferenças. Acredito que o espaço de fala da mulher sobre sua valorização profissional tem ganhado cada dia mais destaque, acredito que isso está trazendo um impacto positivo para o avanço em relação aos diretos das mulheres. Que as arquitetas e urbanistas passem de apenas números de formação nas escolas de arquitetura para profissionais reconhecidas e respeitadas em seu meio profissional.

Acrescento aqui a importância em se discutir também a valorização das arquitetas negras, que ainda não minoria entre as mulheres arquitetas em nosso país, almejo ver cada dia mais mulheres, como eu, negras, de classe baixa, oriundas da escola pública alcançando espaço no mercado profissional da arquitetura e urbanismo.

 

Deixe uma mensagem às mulheres profissionais e estudantes de Arquitetura e Urbanismo.

 

Somos diversas, sejam jovens, mais experientes, negras, brancas, amarelas, vermelhas, somos múltiplas formas, somos múltiplas funções, somos uma força que continuará lutando pelo que é nosso por direito: o exercício de nossa profissão com respeito e igualdade.

 

Confira abaixo um vídeo sobre o Projeto Ubirajara TransformAção, ação de educação urbanística e sustentável organizada pelo Grupo Modular na comunidade de Ubirajara.

 

 

 

Por Beatriz Castro, estagiária, com a supervisão de Júlio Moreno. 

Uma resposta

  1. “Acrescento aqui a importância em se discutir também a valorização das arquitetas negras, que ainda não minoria entre as mulheres arquitetas em nosso país, almejo ver cada dia mais mulheres, como eu, negras, de classe baixa, oriundas da escola pública alcançando espaço no mercado profissional da arquitetura e urbanismo.”
    Parabéns!! Não sou negra, mas me encaixo em todo o restante do contexto. Concordo muito!! Desejo todo sucesso na tua trajetória!

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